Editorial em O Estado de São Paulo
Fantasma que antes assombrava sobretudo os chefes de família, o desemprego tornou-se um problema particularmente agudo entre os jovens brasileiros. É nítida sua face juvenil. Das pessoas sem emprego no Brasil, metade é constituída por jovens. Dos 3,24 milhões de desempregados que havia em cinco regiões metropolitanas brasileiras e no Distrito Federal no ano passado, nada menos do que 1,47 milhão, ou 45,5% do total, tinham idade entre 16 e 24 anos, de acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).
É uma fatia desproporcional à representada pelos jovens na população da área pesquisada (23,8% da população total) e, sobretudo, à correspondente a essa faixa de idade na População Economicamente Ativa (PEA). Dos 18,5 milhões de pessoas que compõem a PEA das regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador e do Distrito Federal, 4,63 milhões, ou 25%, têm idade entre 16 e 24 anos. Por esses números se vê que o desemprego atinge de maneira intensa os mais jovens. A falta de emprego para os jovens não é um problema novo, nem exclusivo do Brasil. É uma questão que preocupa o mundo inteiro e tem sido motivo de estudos freqüentes de instituições internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em boa parte dos casos, o desemprego de trabalhadores mais idosos é mais grave do que o de jovens. Aqueles normalmente têm dependentes e, quando desempregados, seu retorno ao mercado de trabalho pode ser mais difícil, pois a idade torna-se um fator negativo para sua contratação. Quanto mais tempo ficar desempregado, mais defasado estará profissionalmente e mais difícil será seu retorno. Isso não reduz a gravidade do desemprego entre os jovens. Além dos problemas econômicos decorrentes da falta de trabalho regular remunerado, há outros, sociais e psicológicos, que rondam o jovem sem emprego. Como constatou a OIT, “o desemprego e a baixa empregabilidade dos jovens têm contribuído para o aumento da violência, da prostituição e do consumo de álcool e drogas, assim como sua vulnerabilidade social em todo o mundo”. No Brasil, pelo menos desde o início da década passada, os jovens têm sido as vítimas preferenciais do desemprego. De acordo com números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada pelo IBGE, os jovens de 15 a 24 anos representavam 51% dos desempregados brasileiros em 1990 e 49% em 1998. Os números do Dieese, calculados de acordo com metodologia muito diferente da utilizada pelo IBGE e referentes a apenas seis regiões de altíssimo índice de urbanização – onde, é importante destacar, o problema do desemprego foi mais agudo nos últimos anos –, são até melhores do que esses. Mas, mesmo assim, eles assustam porque revelam a incapacidade do País de enfrentar com maior eficácia o problema. A melhora, de tão lenta, sugere a perenização do problema. Em períodos de baixo dinamismo da economia, os jovens são obrigados a disputar vagas no mercado de trabalho com profissionais mais experientes, e geralmente perdem. Perdem mais, de acordo com a pesquisa do Dieese, os que têm menos preparo, que são os de renda mais baixa. Isso tende a perpetuar as condições desses jovens mal preparados. O atual governo tentou explorar politicamente essa questão, com a criação do programa Primeiro Emprego, que deveria permitir a abertura de pelo menos 260 mil postos de trabalho por ano, por meio de estímulo em dinheiro às empresas. Por causa de seus resultados pífios, frutos do diagnóstico errado do problema e da sua má gestão, o programa foi sendo esquecido até ser abandonado há alguns meses, de maneira discreta. Em três anos, propiciou a abertura de apenas 3.936 empregos, algo como 0,5% do que se anunciara. “A falta de perspectiva profissional para a juventude se destaca como um dos principais fatores de desagregação social do período atual”, diz o Dieese. Um governo sério e preocupado com o futuro do País não pode deixar de buscar soluções para esse problema, mas precisa fazê-lo com honestidade de propósitos e também com um mínimo de competência técnica. Não foi o que se viu de 2003 para cá.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/19/2006 01:26:00 AM |
|