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ELEIÇÃO PODE SER DECIDA NA VÉSPERA
Por Villas-Bôas Corrêa no Jornal do Brasil
Não é só o peru de Natal que morre de véspera. Já vivi o bastante para ver eleições virarem de pernas para o ar dias antes das filas nas seções eleitorais, nas muitas cambalhotas históricas dos nossos períodos de sucessivas experiências democráticas, intercaladas por longas temporadas de escuridão, censura, violência e tortura nos apagões ditatoriais, que desrespeitam as regras no jogo bruto e acabam em contragolpes fardados ou escorraçados pela reação popular.
Foi assim em 29 de outubro de 1945, na derrubada do Estado Novo, com a deposição do ditador Getúlio Vargas, que voltaria na desforra pelo voto, quatro anos depois, em 1950, para o desfecho dramático no suicídio, em 24 de agosto de 1954, em lance genial que arromba a porta da História para o seu julgamento definitivo.
E foi com o outro modelo que acabou a mais longeva das ditaduras do rodízio dos cinco generais-presidentes e que faleceu anêmica, impopular, desacreditada ao fim dos intermináveis seis anos do mandato do presidente-general João Batista Figueiredo.
O candidato-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não parece especialmente dedicado às leituras históricas. Mas, por ouvir dizer, deve saber o suficiente para os justificáveis cuidados das suas dúvidas em comparecer ao último debate entre candidatos marcado com grande antecedência, para esta noite, na TV Globo, com a previsão de audiência recordista na transmissão em rede nacional.
Dois precedentes impuseram-se à sua atenção na noite mal dormida ou insone da véspera. O primeiro, mais distante, remete à noite de 30 de abril de 1981, na frustrada tentativa de prolongar a ditadura agonizante e que ficou conhecido pelo apelido de atentado do Riocentro, ainda agora relembrado nas muitas pesquisas da imprensa. O resumo cabe em poucas linhas do que se apurou - em meio à intencional barafunda da farsa para esconder a verdade e construir a versão oficial da mentira na patranha do relatório de comicidade patusca do coronel Job Lorena de Sant'Ana: um grupo de militares, que operava na semiclandestinidade da repressão, tramou o massacre que se seguiria à explosão de bombas durante o show, com milhares de assistentes, promovido pela esquerda no Riocentro, com a participação de astros da música popular. Imperícia, azar ou o dedo do destino, uma das bombas explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que teve morte instantânea, e feriu gravemente o capitão Wilson Machado, sentado ao seu lado no banco estreito do Puma, o carro da moda da juventude. A montagem da apuração militar, a bambochata que virou pelo avesso o relatório que começou pela conclusão para o encaixe da versão falsificada, marca o fim da ditadura e do governo terminal do último general-presidente.
A outra lição, Lula aprendeu em amarga experiência pessoal, no segundo debate, em rede nacional de TV - da rodada decisiva do segundo turno, na campanha de 1989, quando perdeu a eleição para Fernando Collor de Melo. Lula compareceu ao mano-a-mano e foi a pique em atuação calamitosa, que decretou a folgada vitória de Collor.
É natural que pense duas vezes no vai-e-vem da rede da hesitação. Só a eleição no primeiro turno, ainda que por um voto, dissipará as nuvens dos escândalos da temporada de corrupção que toldam o céu do imprevisível amanhã.
Se necessita do conselho do mais esperto dos sábios, medite sobre a máxima do saudoso amigo Stanislaw Ponte Preta, menos conhecido como Sérgio Porto: "A verdade é que ninguém chega impunemente a presidente da República”.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/29/2006 02:05:00 AM      |