Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - O princípio da reeleição desperta reações quase unânimes entre os políticos, tendo em vista a possibilidade de um presidente, governador ou prefeito poder disputar o segundo mandato no exercício do primeiro, quer dizer, usufruindo a máquina pública para ficar em exposição permanente, ao contrário dos adversários. No Congresso, na imprensa, nas associações de classe, ou seja, no mundo das instituições, todo mundo prega a extinção da reeleição. PT escondeu referência à reeleição Como explicar, assim, que, segundo pesquisa da Datafolha, 68% manifestaram-se no sentido de os presidentes deverem dispor do direito de disputar novo mandato? Seria um choque entre o País real e o País formal. A explicação pode estar na gramática. O povão optou muito mais pelo direito de o presidente atual ter o direito à reeleição do que em função de os presidentes poderem conquistar o segundo mandato. A maioria dos 68% é constituída de eleitores de Lula. Fosse chefe do governo alguém mal de popularidade e o resultado seria diferente. Por analogia é que se registraram números também favoráveis à reeleição de governadores e de prefeitos, se bem que menores.
Assim estamos, a um mês das eleições: as possibilidades de continuação de Lula são tão grandes que superam Aristóteles. Em vez de partir do geral para o particular, o eleitor faz caminho oposto. Sai da fulanização para a generalização. Isso talvez explique porque o PT e o comando de campanha tenham matreiramente omitido do programa do candidato qualquer referência à reeleição. Apesar disso, uma vez conquistado o segundo mandato, anuncia-se que Lula enviará ao Congresso proposta extinguindo a hipótese de segundo mandato disputado no exercício do cargo. Valeu para ele, não valerá para mais ninguém... Todos negam, no entanto... Não há quem, no governo e no PT, deixe de considerar sinistrose a hipótese de Lula, uma vez conquistado o segundo mandato ainda no primeiro turno das eleições, venha a trabalhar ou permitir que se trabalhe logo depois pelo terceiro mandato sucessivo. Esse temor se espraia pelas oposições. O argumento pela primeira reeleição valeria para outra, ou outras: se a população está satisfeita, se apóia a extensão das realizações por mais um período, por que não prolongar o modelo? Trata-se, é claro, de estultice, de abuso inominável contra as instituições democráticas, valendo referir, com justiça, que ninguém no governo admite conversar sobre o assunto. No entanto, a sombra do continuísmo pode estar pairando. O poder embriaga e essas coisas podem acontecer. Não faltarão sabujos para sustentar que se as coisas vão bem não há motivo para modificá-las... Convém acreditar nas negativas, mas observar as reações, não retóricas, mas faciais, de gente consultada a respeito.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/02/2006 04:05:00 AM |
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