Por Onofre Ribeiro A propósito do artigo de ontem, “A quem interessa a eleição?”, recebi muitas contribuições interessantes. Não vou reproduzí-las, mas gostaria de abordar a questão da linguagem do programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão. A rigor, não se achou uma linguagem clara dos candidatos em nenhum nível, adequada às aspirações dos eleitores. A maioria dos candidatos fala de sua experiência passada, enquanto os eleitores querem saber do futuro. Todo mundo sabe que não interessa o que está aí. Interessa saber o que os políticos e os executivos poderão fazer em termos de emprego, de segurança, de saúde e de cenários futuros. Exatamente isso que a maioria dos candidatos desconhece por completo. Os programas eleitorais estão cheio de “fui governador e fiz, fiz, fiz e aconteci”. Um dos candidatos mente sossegadamente. Criou o mundo em quatro anos e agora quer descansar por oito anos no Senado. Passou a perna até em Deus, que gastou seis dias para fazer o mundo.
De modo geral essa tem sido a linguagem: “vou lutar pela saúde, pela segurança, pela geração de emprego e renda”. Esta é a promessa mais comum. E, a rigor, não têm a menor idéia da dimensão dessas promessas. Do mesmo modo, ninguém aborda o que a juventude espera nesse futuro próximo quando os atuais postulantes, quando eleitos, estiverem exercendo os seus mandatos. Há uma mesmice muito cruel. Por isso, as correntes pelos votos nulos e brancos crescem. Na internet as correntes tentam editar aquela que apregoou o “não” ao desarmamento. Esta onda não teria sentido, se os candidatos aos parlamentos estadual e federal, tivessem lido as pesquisas qualitativas e visto nelas mais do que os números da preferência eleitoral. Os eleitores estão mandando recados cada vez mais diretos. Não querem políticos aventureiros. Não querem políticos anti-éticos. É certo que alguns ainda serão eleitos. Mas será o fim de sua carreira. Ex-prefeitos, ex-parlamentares e parlamentares. Mas se vê no quadro de postulantes, gente nova pensando diferente. Contudo, nem mesmo esses construíram um discurso para a sociedade que renasce dessas cinzas políticas tão mal-faladas do mandato que se encerra em dezembro deste ano. No mundo do século 21, a linguagem é tudo. Basta ver como a publicidade lida com o mercado. Um produto é tratado de maneira sutil de modo a que o consumidor perceba as suas qualidades sem que elas precisem ser ditas como no passado. O consumidor não quer ser intimado a comprar. Ele quer decidir por si só depois de compreender as qualidades de um produto ou de uma idéia. Não é o que está acontecendo na linguagem dos programas eleitorais. Os candidatos falam de si, falam das suas propostas, mas não têm a mínima idéia do que o seu consumidor-eleitor pensa. É uma linguagem de surdos-mudos. Um finge que fala e o outro finge que ouve.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/07/2006 02:22:00 AM |
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