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CAMPANHA SEM SAL E SEM POVO
Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
Se a campanha eleitoral terminasse hoje, ninguém sentiria a sua falta. Há três semanas e pouco do fim do horário de propaganda em cadeia nacional de rádio e televisão, nenhum candidato esquentou a pasmaceira das promessas no ar com uma idéia nova, com a proposta polêmica, com a denúncia-bomba do novo escândalo capaz de sacudir a poeira que pousa sobre a indiferença do povo, que vota e decide como quem cumpre uma obrigação burocrática.
Eleição decidida com grande antecedência, com a liderança folgada do candidato-presidente Lula em todas as pesquisas e o oposicionista Geraldo Alckmin sempre prometendo que amanhã começará os ataques ao adversário, a primeira campanha sem o colorido vivo do confronto ideológico parece promoção de venda dos encalhes de fim de estação.
Tão murcha e insossa, que permite ao favorito zombar dos concorrentes com a tática escapista de recusar todos os convites de emissoras de TV e de rádio, de jornais e revistas para debates ou entrevistas. Lula tem medo de ser surpreendido pela pergunta maliciosa e escorregar no sabão da resposta equivocada. Ele gosta mesmo de debate com intelectuais a favor. Sente-se um deles, com as mesmas preferências literárias e a identificação política.
Campanha para o milionário de votos é viajar, enfiar na cabeça o boné que o identifica com o auditório do momento e soltar a língua na autolouvação do governo e do orador, espargindo promessas de melhorar, em mais quatro anos, o Brasil que recebeu falido na herança maldita do invejado e odiado antecessor FHC e transformou num dos “melhores países do mundo”.
As perspectivas de uma reviravolta na reta da chegada são cada vez mais remotas. A oposição perdeu a vez e a hora de encostar Lula no canto da denúncia dos erros e escândalos do seu governo e de aproveitar o horário eleitoral para a óbvia reação, mostrando, com imagens datadas o Brasil esquecido dos bolsões de miséria e fome, a infâmia do trabalho escravo nos grotões do Norte, do Nordeste, do Centro e até nos estados das áreas prósperas de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro em vertiginosa decadência.
Lula correu na ponta sem ser incomodado com os petelecos de gentis reparos, tão suaves como carinho de namorados. A falta de garra da oposição ignorou os esforços de alguns dos seus líderes para impedir a suicida manobra, claramente articulada nas cafuas do baixo clero e nas tocas de petistas e demais envolvidos no chorrilho dos escândalos de corrupção dos últimos dois anos, para salvar os companheiros do risco, a cada dia mais remoto, da cassação dos mandatos, para garantir a impunidade por mais quatro anos, sob a cobertura de novo mandato.
Com a pessimista previsão do mercado de um PIB de 3,2% para este ano e de queda continuada, o governo aumenta as despesas, anuncia a elevação dos impostos, as empresas reduzem os investimentos e o endividamento da classe média dispara, enquanto os pobres despertam do sonho do endividamento – facilitado pela garantia dos empréstimos bancários com descontos em folha de pagamento de salário, aposentadoria e pensão – com a cobrança da conta com os rendimentos reduzidos.
No estremunhar do desespero, com a visão da derrota cada vez mais nítida, a oposição rachada por desavenças e pela debandada clássica das traições, tenta os remendos de emergência.
O educado candidato Geraldo – simplificação para uso eleitoral – ao arrepio do seu temperamento, impostou a voz e subiu o tom dos ataques ao adversário. Em Goiânia, com a presença do ex-governador goiano, Marconi Perillo, no melhor momento da campanha, trocou as luvas pela borduna e baixou o porrete: “A primeira coisa a fazer é passar a vassoura e varrer a praga da corrupção”. E, mirando o peito do inimigo: “O Lula fica só nas nuvens, passeando de Aerolula. Vamos pôr o pé no barro, na poeira e tratar de trabalhar. O povo está cansado de blablablá, de discurso, Quer que o governo não roube, não deixe roubar e diga a verdade para as pessoas”.
Antes tarde do que nunca para pegar o vagão da última esperança. Mas, pelos antecedentes, pelas pesquisas, pela apatia da campanha, o candidato Alckmin demorou muito a enlamear os sapatos.



Editado por Giulio Sanmartini   às   9/07/2006 02:40:00 AM      |