Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Continuando nestas descompromissadas observações sobre a simbologia dos atuais candidatos a presidente da República, a vez é de Geraldo Alckmin, do PSDB-PFL. Ao contrário do presidente Lula, que há mais de vinte anos vem pintando com cores fortes os símbolos capazes de defini-lo, o ex-governador de São Paulo inicia e termina a exposição de sua imagem precisamente com esse valor: ex-governador de São Paulo. O símbolo de Alckmin pretende ser de um administrador competente, honesto, fiel seguidor de Mário Covas, tucano disciplinado mais inflexível. Alguém que cumprirá agenda rígida no Palácio do Planalto, chegando às oito da manhã, indo almoçar com a família no Palácio da Alvorada, retornando para despachar com seus ministros e, só por absoluta imposição dos fatos, varando madrugadas em reuniões políticas. O candidato procura passar o perfil do presidente que o País estaria necessitando, esforçando-se por tornar-se o oposto do adversário. O símbolo do homem comum, gente como a gente, jamais messiânico ou, muito menos, salvador da pátria. Traduzindo: o candidato da oposição quer mostrar-se como o anti-Lula, jamais freqüentando palanques e telinhas com promessas mirabolantes e inviáveis, como mudar o País, revolucionar as instituições e imaginar que a História do Brasil será contada a partir de sua posse.
Depois de tantas esperanças e de tantas indignações por parte da opinião pública, Alckmin supõe o caminho de sua vitória eleitoral na simbologia do homem comum. Isso não significa apresentar-se como alguém desfibrado, posto ao sabor das pressões, tímido e temeroso diante dos desafios a enfrentar. Apenas vacinado contra o populismo. Conseguirá emplacar esse símbolo de candidato e, depois, de presidente ao estilo light? Pelo menos, entende ser o que a população deseja, depois de muitas frustrações. Fia-se na importância de evitar repetir Jânio Quadros, João Goulart, Fernando Collor, Fernando Henrique e Lula, cada um deles aferrado a propostas inesquecíveis, mais próprias para campos de futebol do que para o recôndito do gabinete onde devem ser debatidas e solucionadas as grandes questões nacionais. É evidente o perigo do reverso da medalha, ou seja, Alckmin não pode confundir o símbolo agora em gestação como o de alguém sem um plano de governo ou de representante das elites econômicas. Metas reformistas precisariam ser definidas e anunciadas de pronto, porque já andam mais atrasadas. Mais ainda importaria-lhe marcar a imagem de alguém preparado para presidir o País, disposto ao diálogo com as diversas forças nacionais e, ao mesmo tempo, sem ceder à pressão de nenhuma delas. Jamais um amanuense, como jamais, também, um demagogo. Não parece fácil dar forma a esse modelo sem incorrer na tentação de imitar o perfil de alguns antecessores como, também, de ter sua imagem esmaecida, sem empolgar o eleitorado. Necessita, o hoje tucano-mor, demonstrar a firmeza mantida nas preliminares da sua escolha no âmbito do PSDB, afinal venceu José Serra pela determinação e pela persistência. Mas seria mortal para ele ver prolongado o apelido corrente na mídia, de "picolé de chuchu". Alguns retoques na simbologia tornam-se urgentes. Demonstrar ser um candidato voltado para as agruras da população miserável e menos infenso a prolongar os benefícios das elites especulativas. Em condições de avançar algumas pedras no xadrez do modelo econômico, deixando claro que não seguirá em gênero, número e grau a política iniciada pelo companheiro Fernando Henrique e adotada pelo adversário Lula. Aqui pode situar-se uma das características maiores de sua simbologia, se estiver mesmo disposto a tanto. O símbolo do homem comum é essencial para Geraldo Alckmin, porém, na medida em que possa transmitir à população a evidência de que sua estratégia sairá vitoriosa sem necessidade de ostentações nem vaidades. Em suma, dar ao País um período de estabilidade, paz e competência. Seu primeiro teste para a fixação desse símbolo acontecerá antes mesmo da eleição, quando se tornar inevitável o choque contra o Grão Tucanato. Ao novo presidente da República caberá formar o ministério, claro que respeitando acordos político-partidários, mas sem deixar-se comandar pelos donos de seu partido. Antes do pronunciamento eleitoral, Alckmin precisará repelir o rótulo de pau-mandado dos banqueiros, dos oligarcas, dos ruralistas e dos conservadores, sem cair na tentação de ceder a sindicalistas, sem-terra, revolucionários e desocupados. Não parece fácil. Apenas, é o caminho único para afirmar, inexistindo meios termos. (Continua amanhã)
Editado por Giulio Sanmartini às 7/31/2006 03:35:00 AM |
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