Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa A inversão da equação custou caro a Lula. Quando deveria ter sido presidente, agiu como candidato e agora, quando deve ser candidato, age como presidente. Há uns três meses, sustentava um segredo de polichinelo cortando o País de Norte a Sul afirmando que não estava em campanha, mas sim governando. Irritou a oposição que, naturalmente, percebeu a malandragem. Então não se sabia nem mesmo se Geraldo Alckmin seria consagrado candidato, como a campanha de Anthony Garotinho se esforçava para não fazer a mesma vergonha do White Goose, aquele mega-avião de Howard Hughes que só conseguiu ficar pouco mais de metro e meio acima da água, e por poucos segundos. Lula, em franca corrida eleitoral, acusava seus rivais de quererem-no escondido no gabinete presidencial, acuado. Não teve muito tempo para cuidar de coisas sérias, tanto que foi surpreendido pelo amalucado gesto de Evo Morales, que na mão grande ficou com os ativos da Petrobras na Bolívia. O presidente, naqueles dias, corria ferozmente atrás da reeleição, aproveitando-se até mesmo do fato de que os adversários estavam desnorteados com os resultados das pesquisas de opinião. A lama da crise política chegava ao primeiro andar do Palácio do Planalto, mas Lula, no conceito popular, continuava inabalável.
Foi, então, aberta a temporada de caça ao posto de supremo magistrado da Nação. Alckmin, Heloísa Helena, Cristóvam Buarque e até mesmo os azarões José Maria Eymael e Luciano Bivar saíram em campo. Lula, não: resolveu voltar a ser presidente. Pareceu ter se envergonhado de largar na frente dos adversários e, por isso, se recolheu. O resultado pôde ser sentido nas pesquisas de opinião, que já apontam segundo turno. Os rivais começaram a badalar, a descer o bambu em Lula, e o máximo que o presidente retrucou foi que precisam lavar a boca antes de falarem do governo dele. A bem da verdade tem razão, mas para quem está em campanha, é pouco. Não se pretende que o presidente perca a finesse, como o vice da chapa de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), que o acusou de beber demais e trabalhar de menos. Não fica nem bem algo assim saindo da boca de um sujeito pacífico como Lula. Mas deixar para o ministro Tarso Genro (Coordenação Política) a tarefa de criticar o ex-presidente Itamar Franco, que se juntou à campanha de Alckmin, foi sinal de fraqueza. Dizer que seu ex-embaixador na Itália até poucos meses atrás tem direito de escolher quem quer apoiar por ser maior de idade, é sentir o golpe. É reconhecer que despreza-lo e correr para o abraço de Newton Cardoso foi um erro. Se busca a reeleição, tem que ser mais Felipão e menos Parreira. Lula não pode dar a impressão de que todo assunto é comum e mofino, que é normal se bandearem na direção do adversário. O presidente não pode ser olimpicamente confiante de que tais gestos nada representam e que, por isso, não merecem ser rebatidos. Fleugma demais costuma prenunciar derrotas. Como a que a torcida viu dia 1º deste mês, em Gelsenkirchen, para a França.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/31/2006 03:32:00 AM |
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