Por Raymundo Negrão Torres (*) em Mídia sem Máscara A reeleição do presidente, para os americanos do norte, é a oportunidade de julgar o mandatário incumbente, rejeitando-o para um segundo mandato ou reelegendo-o. No Brasil, a julgar pelas pesquisas, isto parece correr o risco de não acontecer. Um governo incompetente, inoperante, sem um projeto de desenvolvimento nacional, corrupto e corruptor, parece bafejado por pesquisas favoráveis que o deixam mais arrogante e acenam com a entrega do governo, por mais quatro anos, a um presidente demagogo, falastrão e inescrupuloso, que viu auxiliares imediatos e de confiança serem postos na rua da amargura e afastados por graves irregularidades e mente descaradamente ao alegar completo desconhecimento dos crimes que ocorriam à sua volta. Poder-se-ia pôr em dúvida o valor das pesquisas, feitas por institutos que vivem à sombra e dependentes das tetas do Erário. Realmente, quanto poderá representar a opinião de dois mil entrevistados para um eleitorado de mais de cem milhões de votantes, selecionados em apenas uma centena de municípios, em amostragem facilmente manipulada? Além disso, todos sabemos que boa parte de nossa gente vota com o "estômago". Situação boa favorece o governo, embora, como agora, essa situação muito pouco tenha a ver com o que fez ou deixou de fazer o governo Lula. Tivemos no passado vários exemplos disso, como no estelionato eleitoral do Plano Cruzado, perpetrado pelo governo Sarney, e na euforia do Plano Real que elegeu e reelegeu FHC. No momento em que a ação da luta armada comunista impunha a mais pesada repressão aos terroristas e guerrilheiros, o governo Médici ostentava os mais altos índices de aprovação, graças aos bons ventos do "milagre brasileiro", o que levou o metalúrgico Lula a dizer que se houvesse eleição direta, Médici seria eleito com facilidade.
O governo Lula - que se assenta em demagógicos programas ditos sociais que dão o "peixe" das esmolas que viciam, ao invés de dar a "vara de pescar" do emprego que ensina a pescar e o livra do paternalismo do governo que se esmera em ser "o pai dos pobres" - recebe as benesses de uma situação internacional favorável, de um excelente desempenho das exportações, graças à eficiência de nossas empresas, de grande procura de commodities e de fartura de capital. Situação que apresenta indagações e nuances que deixam atônitos os analistas internacionais. Alguns deles se perguntam por que o primeiro e o segundo choques do petróleo resultaram em grave recessão mundial e o atual, muito mais grave, parece não ter abalado a maioria dos países? As respostas permitem entender o que se passa no mundo globalizado de hoje, onde China e Índia são fantasmas que assustam as economias mais desenvolvidas. O primeiro choque - quando os países árabes descobriram que o petróleo poderia ser usado como uma arma política - foi causado pela diminuição da oferta, o que se repetiria no segundo, impondo aos países consumidores um verdadeiro imposto, de cerca de 4,5% do PIB mundial, gerando uma fartura de petrodólares de pouca valia para uma economia mundial em recessão e que por isso só pôde absorver 27% deles. Diferente dos outros, o atual choque, que começou em 1997, é um choque de demanda, que duplicou os preços, sem que a economia mundial parecesse sofrer qualquer abalo, ao contrário, registrando um crescimento de 4,5% do PIB. Fica difícil entender porque tantos ainda acreditam em Lula, quando uma pesquisa interna realizada pela Fundação Perseu Abramo, do próprio PT, tenha dado como resultado considerar o governo Lula o segundo em nível de corrupção, só perdendo para o governo Collor. Quando, apesar de todas as manobras, mentiras, com o uso da máquina do governo, a máscara do PT foi arrancada, levando o Sr. Tarso Genro - tirado às pressas do ministério da Educação para substituir o José Genoíno na presidência do partido - a dizer que o "o PT terá que ser refundado". Idéia que morreu com a verdadeira absolvição dos companheiros que "apenas cometeram erros". Em excelente análise publicada na Gazeta do Povo do dia 29 de junho último, a jornalista Miriam Leitão reduz a pó as inúmeras falácias com que, em seu eterno palanque, o jactancioso Lula empulha seus ouvintes. Lula se gaba de haver consertado a economia. Mente duas vezes: a economia não está consertada e as melhorias havidas foram o retorno a uma situação anterior, que saiu de controle pelo susto da possibilidade da eleição de um candidato que pregava uma auditoria para o não pagamento da dívida externa, que dizia que só autorizaria exportações depois de matar a fome dos brasileiros e que se opunha ferozmente à abertura da economia, à desestatização, ao câmbio flutuante e à responsabilidade fiscal. Nosso desejo e nossa crença é que, na hora de votar, prevaleça a opinião e a escolha dos que enxergam "um palmo à frente do nariz" e não trocam seu voto por um prato de lentilhas de uma enganadora cesta básica. (*): Este foi o último artigo escrito pelo General Negrão Torres, cinco dias antes do seu falecimento, mantendo a mesma lucidez que sempre norteou seus escritos.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/30/2006 01:50:00 AM |
|