Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo Os conselhos contidos na cartilha imaginada por alguns petistas - e renegada oficialmente - para tentar evitar que o presidente Luiz Inácio da Silva cometa erros comprometedores em sua campanha à reeleição são uma perfeição em matéria de fantasia e auto-engano. Levam em conta todo tipo de situação arriscada para Lula, mas ignoram o principal: a realidade. Se resolvesse segui-los, Lula estaria inaugurando a anticampanha, pois passaria os próximos meses praticamente escondido do eleitor, deixando todo o espaço aberto à ação dos adversários. Senão, vejamos as lições segundo as quais campanha boa é campanha nenhuma e candidato bom é candidato mudo e, de preferência, sumido. No primeiro item, a cartilha aconselha o candidato a não se expor a situações de risco e, nos tópicos seguintes, relaciona um a um os perigos a serem evitados: dar entrevistas, comparecer a debates, freqüentar atos públicos, aparecer no comitê de campanha, falar sobre assuntos negativos, se aproximar de aliados divergentes entre si e atacar o adversário. Na visão dos autores do manual, Lula deveria ficar quieto e protegido no Palácio do Planalto enquanto o PT e os ministros se encarregariam da campanha. Ganhar a eleição por gravidade, mediante a lei do menor esforço, seria possível se a realidade fosse outra: se a vantagem do presidente estivesse consolidada e o adversário não desse sinal de vida no tocante a intenções de voto; se o partido do presidente estivesse de posse do pleno prestígio, podendo, assim, substituir a figura do candidato; se os ministros fossem figuras proeminentes da política e capazes de mobilizar a emoção do eleitorado. Pelo que anda se passando em algumas cabeças petistas, há muitas fichas ainda precisando "cair". Com todo o respeito ao trabalho dos ministros de Estado, trata-se de uma equipe de desconhecidos com um ou outro personagem conhecido por razões outras que não seus dotes como cabos eleitorais. Exemplos? Gilberto Gil e Márcio Thomas Bastos. Quanto ao partido, o PT, o presidente da República é o primeiro a guardar prudente distância regulamentar do desgaste provocado pelos escândalos e posterior proteção aos envolvidos. Os resultados das últimas pesquisas, apontando redução da distância entre Lula e Geraldo Alckmin, também tornam inúteis, na prática, os conselhos do manual antierros, pois Lula amplia a dianteira justamente quando se expõe. Já aquelas lições relativas ao silêncio, ressalvados os assuntos altamente positivos, são boas, mas de eficácia garantida apenas em ditaduras, já que nas democracias o eleitorado costuma esperar, e cobrar, que um presidente seja visível e audível à sociedade.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/18/2006 11:14:00 AM |
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