Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
"VOCÊ ACHA QUE EU PRECISO DA IMPRENSA?"
Estado de São Paulo

Paulo Markun, apresentador do programa Roda Viva, da TV Cultura, emissora comandada pelo governo do PSDB paulista, diz que 'se tornou senso comum dizer que o PT quer controlar a imprensa'. 'Exagero. Eles querem a imprensa a seu favor, como todo mundo. O problema é o método', completa. 'No governo de Fernando Henrique, os contatos do presidente com a imprensa eram regulares e freqüentes. No governo Lula, a relação é atabalhoada.'
Markun acha que os jornais têm razão em cobrar mais transparência do governo Lula, mas diz que nem sempre são transparentes quanto a seus próprios interesses. 'Nesse caso, muitas vezes dão pouca cobertura à visão contrária', afirma.
Para Carlos Augusto Schroeder, diretor-geral da Central Globo de Jornalismo, 'o governo tem uma relação de desconfiança'. 'Sempre imagina que temos uma segunda intenção quando fazemos uma reportagem.' Na sua visão, o Planalto quer que a imprensa ouça o seu lado, mas não compreende o lado da imprensa, 'que é apurar e apontar o que não está certo'.
No livro Viagens com o Presidente, os repórteres Eduardo Scolese e Leonencio Nossa lembram que a maioria dos presidentes gosta de cultivar relações privilegiadas com a direção dos meios de comunicação, dando prioridade a conversas com colunistas de prestígio e profissionais em posição de mando. Pela paradoxal descrição de Scolese e Nossa, 'o governo petista representa um período de liberdade para os jornalistas'. Eles dizem que os repórteres não se sentem ameaçados de, cedo ou tarde, terem suas cabeças pedidas pelo governo à direção dos veículos de comunicação, já que Lula trata repórteres, editores e patrões da mídia sem privilégios. A desinformação é geral: 'Todos são nivelados por baixo'.
'O presidente Lula nunca me pediu para não dar uma notícia. Nem insinuou. Mais de uma vez, o presidente disse: 'Se é verdade, tem de dar'', conta o jornalista Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás.
As dificuldades de Lula para estabelecer uma política saudável com a imprensa tem uma dupla raiz. O governo nunca contou com uma política clara de comunicação para a sociedade, o que tornava impossível ter relação produtiva com a mídia.
A biografia de Lula mostra que ele manteve boa relação com a mídia quando precisava dela - na oposição -, mas que a descartou no governo. Um assessor relata: 'Quando lhe pediam entrevistas , Lula lembrava as pesquisas favoráveis e perguntava: 'Você acha que eu preciso da imprensa?''. Essa opção pelo discurso sem contraditório faz parte do figurino de vários tipos de político, inclusive do que governa acima das instituições por julgar ter 'relação direta com a população', como o próprio Lula disse certa vez.
Três de seus auxiliares estão convencidos de que o convívio do governo com a imprensa foi envenenado pelos serviços do jornalista Bernardo Kucinski, assessor do Planalto que fazia análises de jornais e críticas ao próprio governo, de onde saiu em julho. 'Depois de ler essas coisas, o próprio presidente já vinha queimado para qualquer conversa', diz um assessor. Kucinski alega que essa versão é uma 'bobagem', mas está enganado. Inspirados por textos que ele distribuía desde a campanha eleitoral, assessores do governo preferiam o confronto com a 'imprensa burguesa' a informar a população.
'Como muitos presidentes, Lula não tem tempo para ler jornais nem ver TV e acompanha a imprensa por clipes e relatórios de assessores', observa o jornalista Boris Casoy. Nos últimos dias, Lula não perde chance de dar entrevistas, mesmo curtas. Os assessores dizem que a mudança começou. Depois da coletiva, ainda sem data, o presidente terá quatro anos para mostrar que estão certos.


Editado por Anônimo   às   12/03/2006 08:39:00 AM      |