Sabe-se que, num flagrante e imoral desrespeito ao eleitor e aos bons costumes já se negocia na Câmara, e “negócio” é com eles mesmos, a possibilidade de se arquivar todos os processos que não forem julgados até o fim de dezembro dos deputados que não foram reeleitos. Com este gesto os acusados poderão tentar as urnas nas próximas eleições municipais. É na verdade uma absolvição compulsória para supostos bandidos e ladrões. A maioria desses deputados foi literalmente “cassada” pelo povo na recente eleição, numa demonstração de que o povo quando quer sabe fazer e não pode confiar em julgamentos de faz de conta protagonizados em réplicas de picadeiro e teatro de falsidade mórbida. E agora esses mesmos execrados pelo eleitor indignado buscam como prêmio de consolação essa absolvição fajuta, que se desenha e se negocia nas entranhas do podre poder.
O próprio Izar, ele mesmo, num gesto do mais deslavado cinismo, diz que “por desencargo de consciência e para não haver injustiça, vou enviar os processos para o Ministério Público com as oitivas que fizemos no conselho”. Puro jogo de cena para postergar o julgamento até o final do ano e fazer valer a festa da pizza.
Dos poucos que restarem para julgamento é muito provável que o comportamento seja idêntico. O mafioso Luiz Antonio Vendoin, um dos donos da Planam, principal empresa do esquema que vendia as ambulâncias superfaturadas para prefeituras, disse na CPI que “deu ao ex-lider do PP Pedro Henry uma Blazer como pagamento de comissão” na negociata das ambulâncias. Mas o “nobríssimo” relator, deputado Mussa Demes (PFL-PI) após ouvir o depoimento do acusado demonstrou evidências de que vai propor sua absolvição. Já o presidente do conselho antecipa julgamentos negociados e diz que os deputados Wellington Roberto, Jonival Lucas e Laura Carneiro são “supostamente inocentes”. A deputada derrotada pela justiça das urnas Celcita Pinheiro (PFL-MT) poderá ser julgada na próxima semana, mas o resultado do julgamento também está antecipado: A relatora do processo, sua ilustre colega Ann Pontes, na maior cara de pau, já avisou que vai propor a absolvição. O mesmo Vedoin disse na Justiça Federal que deu 50 mil à deputada Celcita Pinheiro para ajudar na sua campanha eleitoral, por meio de dois cheques de 25 mil. E assim caminham os processos por quebra de decoro parlamentar em um cenário onde se supõe não estejam presentes nem a ética nem o decoro.
Pasmem que, o íntegro procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, depois de acurado estudo caso a caso, denunciou a esmagadora maioria dos parlamentares citados, inclusive os inocentados por antecipação, da mesma forma que o relatório preliminar da CPI dos Sanguessugas.
Onde vamos parar com um Legislativo que negocia a podridão, inocenta marginais, convive com o crime e a imoralidade pública e dá atestado de bons antecedentes para agentes da escória da política brasileira? Conhecendo os nossos parlamentares até que os fatos não surpreendem, mas envergonham e assustam.