Estado de São Paulo
Ninguém do grupo de Lula quer presidir o PT
Depois de conquistar o apoio do dividido PMDB para o governo de coalizão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado em pacificar o PT. Diante da interinidade no comando petista, busca um nome de expressão para ocupar, no seu novo mandato, a cadeira de couro vermelho que já foi dele e é usada pelo presidente do partido. Emissários de Lula já começaram as sondagens para verificar quem poderá substituir o presidente licenciado, deputado Ricardo Berzoini (SP), em meados de 2007. Estão desiludidos: no antigo Campo Majoritário, grupo de Lula que não tem mais a hegemonia no PT, ninguém quer assumir o desafio. 'Me inclua fora dessa', diz o governador do Acre, Jorge Viana, um dos cotados para representar o grupo numa provável disputa pela vaga com facções de esquerda, no ano que vem. 'Eu estou muito longe da sede do PT, em São Paulo.'
A distância, porém, não é argumento para impedir outros vôos: Viana termina o mandato em dezembro e gostaria de ir para o Planalto. Tem trânsito no PSDB e, na montagem do ministério, pode ser puxado para a articulação política, se o titular das Relações Institucionais, Tarso Genro, for para a Justiça. Presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia não consegue se desvencilhar da 'cadeira elétrica', como os petistas definem o posto que, no passado de oposição, já foi disputado a tapa. Assumiu a missão a contragosto, em outubro, quando Berzoini foi obrigado a se afastar, abatido pelo escândalo protagonizado por petistas que tentaram comprar um dossiê contra tucanos, por R$ 1,75 milhão.
MALDIÇÃO Garcia encarou a tarefa depois de Lula chamar os arapongas que viviam em seu comitê de 'bando de aloprados', mas tenta se livrar da maldição do cargo. É o quarto presidente do PT desde o início do primeiro mandato de Lula, em 2003: antes dele sentaram-se na cadeira vermelha José Genoino, que caiu com a crise do mensalão, Tarso Genro - que entrou em confronto com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu quando ele estava prestes a ser cassado pela Câmara - e Berzoini. Dirceu dirigiu o PT com mão-de-ferro de 1995 a 2002 e até hoje tem influência no partido. Ao receber o bastão de Berzoini, Garcia esperava que a solução fosse rápida. Em tom irônico, chegou a dizer que devolveria logo o 'abacaxi' para Berzoini. Ledo engano. Seu mandato-tampão pode durar até julho de 2007, quando o PT promoverá o terceiro congresso do partido. O megaencontro para fazer o acerto de contas diante de tantas crises deverá convocar nova eleição entre os filiados e escolher outra direção para o PT até o fim do ano que vem. 'Eu respeitarei qualquer decisão que o congresso do PT tomar', afirma Berzoini, quando questionado sobre a possibilidade de ter o mandato abreviado. Eleito para presidir o partido até setembro de 2008, ele nega que tenha ordenado a compra do dossiê e, apesar do desgaste, das pressões e do fogo amigo, fala em voltar. 'Não estou envolvido com esse episódio e aguardo o fim das apurações', diz. Enquanto nada se resolve, Garcia acumula funções, no PT e na assessoria de Relações Internacionais de Lula - uma situação inconveniente para a anunciada autonomia do partido em relação ao governo. 'Não vamos tapar o sol com a peneira: é claro que há um problema com a interinidade na presidência do partido', observa Jilmar Tatto, terceiro vice-presidente do PT e um dos poucos que defendem o retorno de Berzoini.
Editado por Anônimo às 12/03/2006 08:17:00 AM |
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