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SHERLOCK HOLMES EXPLICA

Ralph J. Hofmann

Corria o ano de 1899, estávamos eu e Sherlock em Viena, onde inicialmente eu levara o mesmo para tratar-se com o Dr. Freud para descobrirmos a origem de seu crescente vício de injetar-se com cocaína em solução de dez porcento.
Eis que aparece , Mycroft, o irmão mais velho de Sherlock, acompanhado de um jovem estranhamente trajado, meio como garimpeiro californiano, usando calças de lona azul-índigo, meio como marinheiro russo ou francês, com uma camisa listada de cores horrorosas.
Sherlock encarou o sujeito e imediatamente disse: “Você vem do futuro, mora no Brasil e veio me consultar sobre um assunto mais psicológico do que criminal. Só decidiu me consultar porque o Dr. Freud não está disponível”.
O sujeito deteve-se atônito e perguntou: “ Como sabe?”
“Bem, os pontos de sua roupa são costurados com uma máquina cuja precisão é tal que não pertence a este século, sobre os pés o Sr usa estranhas botinas de tecido e de algo que parece couro mas não é, e de uma borracha que não é borracha, cuja tecnologia não estará disponível por, no mínimo 40 anos, aliás seus pés fedem quase tanto quanto um gambá.
O Sr. está usando uma cruz católica, uma figa e um conjunto feito de penas e contas típicas, fitinhas vermelhas amarradas nos pulsos donde deduzo que como todo brasileiro você vai à missa no domingo e noutro dia da semana vai a uma seção afro-brasileira. Ou é brasileiro ou é um semiologista Italiano nascido em Alessandria no norte da Itália. Como você não tem cara de semiologista italiano você deve ser brasileiro”.
“Bom Dotor Sherloque” – “Sherlock se me faz favor, dispenso o doutor, no seu país este título com demasiada freqüência denota um vigarista bem sucedido.” – “Pois é, Shehloque, eu queria que o senhor lesse este curto resumo do ambiente político do Brasil nestes últimos 48 meses, e me explicasse por que nesta altura do campeonato essa Dona Dilma Roussef decidiu emburrecer”. E entregou um cartapácio de 856 páginas A-4 espaço 1 ao investigador.
O investigador sopesou o calhamaço, resmungou: “Bom ao menos algo eu devo aquele estafermo do Jô Soares. Graças ao pasticho mal feito dele eu entendo brasiliês. Tomara que o Dr. Moriarty esfole aquele gordo sem vergonha e bobo alegre”, e avisou que o jovem voltasse dentro de 48 horas.
Na volta, dois dias depois encontraram o detetive fumando sua mescla de tabaco turco de Latákia com maconha sem-semente mexicana e tocando seu violino Guarneri-del-Jesú com extrema incompetência (Quem diz que o Holmes tinha de ser perfeito?).
“E daí Dotô Shehloque, tem alguma resposta”.
“Tenho, mas primeiro pegue esta enciclopédia do século XX. Mandei o Watson roubar na biblioteca do Jô Soares. Pode doar para uma escola de meninos carentes no Brasil. Nas mãos do Jô ele pode usar para cometer mais alguma insensatez contra outro vulto literário do Século XIX. Mas a resposta é muito fácil, se consideramos o que foi a Revolução Francesa, o destino de vultos competentes como Trotsky na Rússia, Camilo Cienfuegos em Cuba, Robespierre na França e muitos outros. Talleyrand foi dentre todos os vultos do início da Revolução Francesa que continuou no poder após 1915. Mas não ficava acintosamente lembrando aos outros como era inteligente e poderoso.
Essa dona Dilma andou se passando. Ironizou sobre quem devia e não devia. Agora, não sendo burra, sentiu que tinha de se unir à massa estulta de seu partido, antes que seus inimigos se unissem com seus amigos para defenestrá-la. Afinal, 2010 ainda vai longe.
Bom dia, passe muito bem, e Watson lhe dará a fatura de meus serviços.
E antes que eu esqueça. Watson está indo para o futuro entrevistar o sexteto, o garçom e mais pessoas para depois escrever um pasticho chamado O Ator Gordo que se mete a escritor e desperdiça o material pesquisado.”


Editado por Ralph J. Hofmann   às   12/30/2006 12:39:00 PM      |