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TEMPO DESPERDIÇADO
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Ralph J. Hofmann
Chama a atenção o fato de que eventualmente alguns dos aparelhos do estado petista que ocupam cargos importantes não são portadores de diplomas de conveniência, ou seja, diplomas de alguma faculdade de direito que lhes facilite tirar um curso enquanto desenvolvem suas atividades de deputado ou secretário ministerial. São de fato pessoas que aos 18 ou 19 entraram para bons cursos sem favor nenhum.
Isto traz à mente Leonel Brizola, o protótipo do populista. Era formado em engenharia. Teoricamente trabalhou como engenheiro com Secretário de Obras de Porto Alegre. Na realidade passou muito poucos dias do seu curso de engenharia em aula pois estava constantemente a serviço do PTB da época. Alguns colegas correligionários cobriam para ele, sendo que na década de sessenta, com Brizola no exílio, um destes me disse: “Se ele voltar e passar a ganhar a vida como engenheiro fique longe. Ele não entende nada. O diploma dele é uma conquista do puro carisma que lançava em cima de colegas e professores.”
Mas voltando à linha de raciocínio, alguns deles de fato estudaram, se dedicaram com afinco, e obtiveram diplomas. Mas foram picados pela mosca azul. Se tornaram políticos e jamais se beneficiaram da disciplina de trabalhar num departamento, sob a disciplina e liderança de um chefe que tenha experiência e comande e ensine, ou que em sendo chefe irascível ensine a pessoa a sobreviver num ambiente hostil e ainda assim desenvolver seu trabalho. Falta método e experiência e em muitos casos autoridade com eficácia.
Pior do que isto. A função de político tem muita semelhança à do ator, cantor ou dançarino, o artista performático, pouca semelhança com a função do produtor, diretor ou qualquer outra função de infra-estrutura de um projeto. O artista aparece. O Diretor e o produtor ficam nas sombras azeitando o sistema para que não sofra entraves.
Isto salta aos olhos na crise aeroviária. Repetidamente vemos ordens ser disparadas pelos gestores da crise. Parecem a “Rainha Vermelha” de “Alice no País das Maravilhas”. Ecoam urros de “cortem lhe a cabeça” em todas as direções, mas cada um desses urros, para as pessoas que se detém para pensar, resulta em problemas imediatos ou no futuro, potenciais de endividamento do governo a companhias aéreas como no plano econômico do Sarney, endividamento aos consumidores, quebras futuras de companhias aéreas hoje em seu berço e a quebra da indústria do turismo. Não esqueçamos que muitos dos problemas iniciais da Transbrasil e da Varig são decorrentes da decisão de José Sarney de absolutamente não escutar os argumentos quanto à impossibilidade de congelar preços de passagens aéreas em 1986 apesar de ser informado de que os custos de componentes eram dolarizados. O governante pode até entender o problema, mas a sua popularidade, sua imagem é, para ele, mais importante do que a razão.
Então vamos lá, não se pode cancelar vôos (mesmo que estejam tão atrasados que não façam mais sentido), não pode haver charters ( mesmo que com isso os hotéis e pousadas fiquem endividados, além do que se todos os “charters” contratados para os próximos dois meses forem cancelados efetivamente será como se cancelássemos todos os contratos de turismo do verão, e por aí afora.
É uma manada de cefalópodes brincando de administrara, sempre com uma câmara de televisão ao lado.
“Cale-se e cumpra o que eu digo! “
Editado por Ralph J. Hofmann às 12/29/2006 12:09:00 PM |
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