Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
CONTROLADORES
Ralph J. Hofmann – 13/12/06

Quanto vale um avião? Sabemos que um Aerolula vale US$ 57 milhões. Um EMB-190 vale uns US$ 29 milhões. Considerando 14 aviões no ar, controlados por um só homem estamos falando de US$ 602 milhões à mercê de um controlador.

Esse controlador é um cabo ou sargento. Ganha entre US$ 680 e US$ 1400 ao mês. O supervisor destes soldados, talvez um tenente ganhará pouca coisa mais, talvez US$ 2,000. Supervisionará uns 12 controladores , ou seja uns 700 milhões de dólares.

Digamos que a qualquer momento é esse o valor que uma equipe está mantendo no espaço aéreo. Significa que, independente das vidas envolvidas, essa turma manipula um patrimônio imenso, centenas de bilhões por ano.

Em lugar de serem funcionários civis são soldados. Mão de obra baratinha. Não podem fazer greve pois implica em quebra de hierarquia.

Mas consideremos o que esta tranche de responsabilidade provavelmente vale numa indústria. Alguém que administra um patrimônio de US$ 600 milhões de dólares. Não que seja o primeiro executivo, sequer quem tenha uma diretoria, mas alguém que precisa mandar abrir ou fechar uma linha de produção causando problemas a vazante ou jusante do problema. Um contramestre de firma sofisticada. Pelo menos de cinco mil reais de salário. Para decidir sobre muito menos, digamos, quinze milhões de dólares.

Vejam, sequer fui à loucura e pretendi salários estratosféricos. Falo do sujeito decente e inteligente que precisa usar sua inteligência no dia a dia. A empresa não quer que ele esteja preocupado com a prestação da casa própria, a escola das crianças ou a mamadeira do bebê.

Até entendo que a Força Aérea tenha seus padrões para especialistas, e sabemos que não sobra dinheiro na FAB como um todo. Ela sofre contingenciamentos como outros setores.

Mas num caso como este, não seria melhor treinar os controladores como soldados, mantê-los no serviço militar alguns anos, promover os melhores a oficiais, mantê-los como instrutores, e depois de três quatro anos desovar a maioria para um serviço civil que seria a Infraero ou outra autoridade qualquer, mantendo-os na reserva ativa da FAB.

O país de ora em diante vai precisar de um número crescente de controladores e administradores de vias aéreas, inclusive manutenção de equipamento. Isso é um fato que veio para ficar. E é importante que se profissionalize essa atividade.

Também devemos lembrar que o que desencadeou essa operação padrão não foi uma questão de salários. Essa entrou de roldão, mas foi uma consciência de que controladores talvez fossem pagar o pato sozinhos por erros causados por anos de obsolescência anunciada e desprezada pelas autoridades que mantém a sete chaves o dinheiro pago pelos usuários para voar em segurança.

E finalmente o que fará um controlador de vôo insatisfeito? Pedir as contas e procurar outro emprego? Aparentemente, mas consideremos. Que empregos há no Brasil para controladores de vôo? As atuais autoridades tem o monopólio do emprego. Lembram as madereiras e mineradoras de antigamente em lugares recônditos do país, onde se o sujeito era demitido da única empresa do lugar ficava sem casa, sem comida e morria de fome se não caminhasse até a próxima cidade. Então o controlador vai ser vendedor, mecânico agente imobiliário, advogado ou economista? Num país em que há falta de controladores? Para a qualquer momento, numa crise a ANAC ou quem quer que venha a ser chamá-lo de sua atividade, enfiar-lhe uma farda de novo pois é da reserva e os seus ex-colegas estão numa operação padrão?

São problemas novos. Não existiam 40 anos atrás. Precisam de jogo de cintura.


Editado por Ralph J. Hofmann   às   12/13/2006 12:11:00 PM      |