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O HOMEM QUE VIROU SUCO
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa

Luiz Gushiken se demitiu ontem do cargo que ocupava no governo. O que exatamente fazia não importa. Poucas vezes na história do País se viu alguém passar de cavalo a burro e permanecer praticamente onde sempre esteve como se fosse uma punição. Gushiken, que ascendeu ao governo como um desses influentes amigos de longa data do presidente, como um desses auxiliares de estreita confiança e intimíssimo da família Lula da Silva, foi posto para fora da casa grande como o cativo que abusa do pecado da gula.
A fraqueza e a solidão de Gushiken ficaram óbvias quando, durante seu depoimento na CPI dos Correios, levou uma descompostura do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) depois que o então futuro ex-influente ministro da Secretaria de Comunicação alteou a voz para rebater uma acusação. Neste dia não se levantou um único dos tenazes combatentes governistas para defendê-lo. Gushiken foi obrigado a se desculpar por ter elevado o tom.
Era tido como o homem que mandava nos fundos de pensão das estatais. Todos os dirigentes saíram da sua cartola. A propaganda oficial do governo também passava por suas mãos: como a mídia brasileira depende imensamente daquilo que o Executivo e seus agentes anunciam, começou a colher adversários quando passou a exigir dos veículos descontos de 50%. Nem Lourival Fontes, ex-diretor do poderoso Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura Vargas - que tinha o poder de estrangular jornais, rádios e revistas -, foi tão inábil.
Se suas conexões dentro dos Correios jamais ficaram bem explicadas, foi alcançado ainda pelo caso das cartilhas do PT. Ou Lula se livrava deste lastro ou todos iam para o fundo do mar. A situação de José Dirceu se tornou insustentável e foi dispensado sem honra nem glória. A Gushiken coube punição mais humilhante: diminuiu de status na frente de todos, tornando-se quase que um espírito a assombrar o Palácio do Planalto. E se submeteu a isto, como um brâmane a expiar punição divina.
Lula aceitou sem pestanejar a carta de demissão. Já estava aceita há pelo menos um ano. Gushiken sai do governo com a metade de seu pouco mais de metro e 70: num dia em que o presidente não estava em casa sequer para levá-lo à porta como cortesia.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/14/2006 01:29:00 AM      |