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COMO CRESCER
Por Valdo Cruz na Folha de São Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva deseja encontrar, nessa semana, a resposta para seu principal dilema no momento: como fazer a economia do país crescer acima de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) por ano. Reeleito e informado de que a taxa de crescimento não supera 3% ao final do ano, encomendou à sua equipe econômica medidas para sair da mediocridade.
A data de entrega foi marcada para amanhã, quando Lula vai reunir sua equipe para tratar do tema crescimento na Granja do Torto. No cardápio a ser apresentado ao presidente nada de cortes gigantescos de gastos públicos, apesar de eles estarem crescendo mais do que as receitas --uma bomba que precisa ser desarmada.
A estratégia, avalizada por economistas como o deputado Delfim Netto (PMDB-SP), é sinalizar uma redução das despesas a médio e longo prazo. Indicar que elas vão cair num ritmo gradual e constante nos próximos anos, abrindo espaço para mais investimentos públicos e desoneração de impostos.
Também não estará em discussão uma "paulada" nas taxas de juros, prescrita pela ala desenvolvimentista do governo tão logo Lula foi reeleito. O máximo que esse movimento causou foi uma blindagem em torno do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Hoje, na equipe econômica, é o nome mais certo no segundo mandato.
O fato é que esse governo, nos dois últimos anos, ficou praticamente imobilizado. Viveu à base de uma política feijão com arroz, deixando o Banco Central adotar uma política monetária austera que colocou a inflação abaixo dos 4% anuais. Mas não se mobilizou para colocar em prática um plano que desatasse os nós da economia brasileira.
Muita gente no governo preferiu o discurso simplista de que bastava derrubar a taxa de juros para que o país voltasse a crescer. Tudo bem, juros elevados são um grande impeditivo. Travam o país. Só que os juros caíram, ainda longe do mundo ideal, mas caíram, e a economia não deve crescer acima de 3% nesse ano.
É preciso mais do que isso. É preciso reduzir a carga tributária, hoje perto dos 40% do PIB, melhorar nossa infra-estrutura na busca de diminuir o custo Brasil e aumentar a capacidade de investimento do país. Tudo muito óbvio, descobrirá o presidente amanhã. A principal resposta, na verdade, não virá do plano a ser elaborado, mas da disposição política em implementá-lo.
Para tanto, será preciso enfrentar amigos e corporações, que pensaram pequeno quando estava em jogo o futuro do país e grande em demasia ao defenderem seus interesses pessoais.
Ministeriáveis
Lula quer surpreender na montagem de seu novo ministério. Gostaria de nomear alguns ministros de impacto. Daí surgiu o nome do empresário Jorge Gerdau Johannpeter. O vazamento muito cedo pode ter comprometido sua ida para o governo. Publicamente, ele diz que não quer ser ministro. Reservadamente, chegou a manifestar esse desejo.
Na pasta da Saúde Lula quer um nome de peso. O próprio Gerdau poderia ir para lá. Na Fazenda, Guido Mantega vai ganhando a condição de favorito. Lula, porém, começou as análises de sua futura equipe com Mantega fora da equipe econômica. Parece estar mudando de planos diante da guerra que foi instalada dentro do governo entre desenvolvimentistas e ortodoxos.
Nessa semana, o presidente vai sentir o aumento das pressões para que defina o mais rápido possível sua equipe. Aqui e ali começam a vazar as informações de que ele já confirmou no posto alguns ministros, como Dilma Rousseff (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Educação), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Walfrido Mares Guia (Turismo). Os de fora da lista vão incomodar o presidente, que gostaria de finalizar o processo de montagem do ministério apenas em dezembro. Talvez não seja possível.
O futuro petista
O PT não tem, hoje, um nome forte para disputar a sucessão de Lula. Nesse quesito larga atrás do PSDB, que conta com dois: José Serra e Aécio Neves. De olho nessa realidade é que muita gente no PT deseja uma grande reformulação no partido a partir do próximo ano. O sonho é transformar a sigla mais uma vez numa referência nacional, imagem completamente comprometida no primeiro mandato de Lula.
Apesar das inúmeras crises e escândalos, o PT conseguiu manter uma boa posição no campo partidário. Aumentou o número de governadores e elegeu uma bancada de mais de 80 deputados. Cresceu mais fora de São Paulo. Agora, a meta seria consolidar o crescimento do partido no país.
O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) defende essa reestruturação do partido, que passa, segundo ele, por uma reformulação do programa partidário e por um aumento do número de filiados. Dulci lembra que o partido tem hoje cerca de 700 mil filiados, mas "muita gente se diz petista e não é filiado, alguns milhões". Em sua estratégia de fortalecer o PT, Dulci acredita que tornar esse contingente filiado é fundamental.
Dulci faz questão de dizer que não é candidato a presidente do PT. E que antes de se falar em nova direção partidária é preciso debater a reestruturação petista. Ele não diz, mas é claro que esse processo visa 2010: fortalecer e nacionalizar o partido para forjar um nome capaz de enfrentar os tucanos na próxima eleição presidencial.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/14/2006 01:19:00 AM      |