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ENTRE O BOM SENSO E A CONTRADIÇÃO
Por Villas-Bôas Correa no Jornal do Brasil online

A julgar pelas recentes declarações, pronunciamentos e discursos da facúndia presidencial, em fase de exuberante inspiração, o reeleito oscila entre a determinação de baixar as armas e negociar alianças e acordos com os parceiros e adversários para compor a base de apoio parlamentar.
Louve-se a habilidade e insuspeitada competência nos recados. Parece que é desperdício de tempo esticar as preliminares e adiar as definições para meados de dezembro. Mas são inegáveis os avanços éticos nos contatos com adversários e muristas, além do blablablá da vaga pauta não escrita de políticas públicas, sem baixar a bola para o lameiro das peladas sobre o rateio de ministérios, autarquias e demais cobiçadas fatias do bolo do poder.
Enquanto não chegar a hora da partilha e da escolha de nomes, não convém arriscar aposta sobre o futuro das intenções lulistas. Mas reconheça-se que parece disposto a preservar sua autoridade de escolher, convidar e nomear ministros, dirigentes de autarquia e assessores.
E aqui uma dúvida sem resposta: presidente reeleito emenda dois mandatos. Poderia manter toda a equipe, evitando o alvoroço na disputa pelo penoso sacrifício de servir a pátria. Ou, como seria o caso, anunciar desde logo os ministros que serão mantidos, fora da rifa dos acordos. Lá é verdade que algumas cabeças estão a salvo da guilhotina, como as de Dilma Rousseff, da Casa Civil, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Antes de embarcar no Aerolula para a viagem de dois dias à Nigéria, onde participa da Cúpula África-América do Sul, alivia as tensões e refresca a cuca, o presidente soltou palavras ao vento e lançou ao ar carapuças com endereços certos, no tricô das contradições. Perorando para seleta platéia de governadores, parlamentares e empresários, engrossou: "Acabamos de sair de um episódio em que uma parte dos políticos brasileiros aprovou o 13° salário para o Bolsa Família". E endureceu mais ainda: "Não se preocupem, que não terei medo de vetar uma única coisa que coloque em risco a seriedade da economia brasileira".
Surpresas atropelam o inesperado. Antes de subir a escada do Aerolula, o presidente vetou o pagamento de jetom aos integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O veto altamente moralizador deteve a onda de vantagens e benefícios do Judiciário, que ameaçava transbordar com a ressaca dos salários acima do teto do funcionalismo que paira na confortável altura de R$ 24.500. Vetou, ainda, a proposta da criação de 58 cargos em comissão no CNMP. O tranco conteve a generosidade da Câmara, pronta para aprovar o projeto que garante o pagamento de jetom de 12% do salário pela presença às reuniões do Conselho Nacional da Justiça. Parece piada, não?
O Judiciário paga, na moita, salários acima do teto constitucional a 2.978 servidores, entre desembargadores, juízes, funcionários, aposentados e pensionistas de tribunais de segunda instância e que deveriam receber, no máximo, R$ 22.111 mensais. Na festa com o cofre da viúva, o maior salário dispara para R$ 34.814,61 - recorde registrado no Tribunal de Justiça de São Paulo.
O Congresso não poderia assistir de camarote ao balé dos marajás. Fez a sua parte: o Conselho de Ética do Senado absolveu, de uma tacada, os senadores Ney Suassuna (PMDB-PB), Serys Slhessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PL-ES), todos acusados de envolvimento com a máfia dos sanguessugas.
O senador Suassuna não saiu incólume: foi condenado à dura pena da advertência oral, um sussurro ao pé do ouvido.
Desabafou, declarando que está "muito enojado da política".
Imagine nós, senador...


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/30/2006 02:51:00 AM      |