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CHARLES DICKENS NÃO NASCEU NO BRASIL
Por Adauto Medeiros, engenheiro civil e empresário.

Lula diz que quer uma reforma Tributária ousada, isto é, menos impostos, mais gastos e mais investimentos. Portanto, é o próprio céu que ele quer. Mas como em economia não há milagre, não há mesmo, nem vai haver nunca, está é uma reforma impossível. Lula administra a coisa pública como os padres na Idade Média. Mas a Idade Média foi um atraso de vida para a humanidade, é bom lembrar.
Bom, mas infelizmente temos que mostrar alguns números para que as pessoas possam observar melhor. Espero que possam. Nossos impostos se dividem assim: 49% da arrecadação vem da produção o que significa dizer que pagamos quase 50% de impostos quando compramos, adquirimos qualquer mercadoria. Isto, claro, leva a sonegação por parte de quem produz, e o governo vai corrigindo essa distorção com normas tributárias que nos últimos anos, vejam bem, teve uma média de 51 normas por dia.
Com essa doidice que só os governos são capazes, ninguém pode se adequar às leis e, portanto ficar sujeito à fiscalização e ser multado. Nos últimos 10 anos já foram criadas 220 mil normas. Pode isso? E, no entanto, ainda sobre a divisão da arrecadação de impostos, 27% vem do Imposto de Renda das pessoas físicas e 24% sobre o capital financeiro. E as pessoas ainda botam a culpa nas classes produtivas. Perdoem eles não sabem o que dizem.
Ora, nos países do chamado primeiro mundo o imposto é revertido para a população, porque os comandantes sabem ser dinheiro do povo, de todos. Como conseqüência dessa perversidade do nosso sistema, ou desse sistema enlouquecido, é a diminuição das vendas e conseqüentemente do emprego e o aumento dos preços. E o pior é que os pobres nesse país pagam mais impostos do que os ricos. As autoridades estão sendo mais perversas com os pobres, embora o discurso seja de que estão ao lado deles. Pagamos impostos sobre o patrimônio, IPTU, IPVA, ITR e não precisamos falar da CPMF que era destinado para a saúde e foi desviado, mas ninguém sabe para onde. Mas nesse país somos todos passivos. Até na economia.
Não vemos uma dessas autoridades políticas falarem em diminuir as despesas com a previdência que nos últimos 10 anos teve um aumento de 100% acima da inflação. Isto gera voto, mas também déficit. Como podemos diminuir os gastos com pessoal do setor público se todos tem estabilidade desde o mais graduado até o ASG (Auxiliar de Serviços Gerais)? Na coisa pública, os administradores fazem que mandam e os funcionários fingem que trabalham. Isso é o “serviço público”. Resultado: uma economia passiva.
O absenteísmo mais alto do 3º mundo parece não ter solução, pois com essa nossa cultura, a maioria dos funcionários públicos recebem seus salários como se fossem umas bolsas de estudo e se quiserem que eles trabalhem tem que dar uma função gratificada. É mole? Em Minas Gerais, tinha 3 mil cargos comissionados, hoje não tem nenhum.
A lei Kandir por seu turno permite aos exportadores isenção do ICMS, mas o governo não devolve o que seria do setor produtivo para reinvestimento. Para se ter uma idéia, existe empresa que tem 600 milhões a receber do Estado. Não é uma brincadeira?
Lula em vez de dizer que quer uma reforma ousada deveria começar a reforma no próprio governo, mas não faz, e depois no maior arrecadador de impostos que é o ICMS, no entanto, esbarra nos governadores e no Confaz que não deixam. Caso não façamos as reformas, teremos em breve um crescimento zero ou inflação, ou o é que é pior, os dois juntos. Devo confessar, diferente de Charles Dickens no seu belo livro “Grandes esperanças” que perdi as esperanças. Mas Charles Dickens convenhamos, não nasceu na América Latina.


Editado por Adriana   às   11/23/2006 04:10:00 PM      |