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LULA NÃO SABE O QUE VAI FAZER
Por Villas-Bôas Corrêa no Jornal do Brasil

O presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva acaba de comunicar, aos 58 milhões de eleitores que garantiram o bis do mandato e aos brasileiros em geral, que não sabe o que vai fazer para "destravar o país". Para tranqüilizar o distinto público, prometeu que vai se dedicar a decifrar a charada até o dia 31 de dezembro, véspera da posse, com a transferência da faixa de uma das mãos para a outra. Acrescentou, como quem guarda um segredo, que "tem algo, e não me pergunte o que é ainda, que eu não sei". Adiantou intenções na mensagem cifrada: "E não me pergunte a solução, que eu não a tenho, mas vou encontrar".
Em meio a tal barafunda e mais o que disse no comício em que se transformou a inauguração da usina de biodiesel da companhia Barralcool, em Barra do Bugres (MT), todo mundo ficou na mesma perplexa confusão que embaralha as promessas do candidato com as hesitações que pontuam as suas espantosas declarações. E que não param aí. No mesmo embalo da baralhada mental disparou desafios como quem solta foguetes para animar a festa: "Vamos desafiar os Poderes Executivo municipal e estadual a trabalharem juntos. Vamos desafiar o Congresso Nacional a trabalhar com as propostas do interesse do Brasil".
O tom conciliatório da fase de euforia depois da vitória alternou ameaças com acenos de um entendimento nacional em torno de temas consensuais. Dedicará a próxima semana à rodada de reuniões com vários líderes políticos, para as quais não exclui nem confirma o convite ao seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em meio à nuvem espessa de contradições dá para distinguir a confissão do presidente de que está perdido e zonzo. E a confirmação de que desperdiçou na agitação de conversas, viagens, nas curtas férias em praia baiana, o tempo irrecuperável para a definição dos rumos políticos da travessia na pinguela entre os dois mandatos. A confirmação também de que está mais perdido do que nunca com o passivo dos erros que se sucedem nos atropelos de cada dia.
Na conta dos prejuízos, a rebelião do PT, inconformado com o tratamento desdenhoso com que vem sendo castigado pelo seu fundador.
No Congresso à matroca com o enfraquecimento dos líderes em fim de mandato, o governo coleciona derrota e pepinos, como a aprovação, pelo Senado, do projeto do senador Efraim Morais (PFL-PB) que concede o pagamento da "gratificação natalina" aos beneficiários do Bolsa Família. Se a extravagância passar na Câmara custará o aumento de despesas de R$ 683 milhões. E imporá ao presidente o constrangimento de vetar a generosidade ou sancioná-la e arquivar a esperança, cada vez mais distante, de equilibrar o Orçamento no primeiro ano do novo mandato.
Mas ainda não é o pior. Crises políticas são contornadas com uma boa conversa. O que não tem concerto conhecido é a incompetência em nível assustador em que se afunda o governo. A crise no setor aéreo, que se prolonga além de todos os prazos de tolerância, expõe as entranhas do monstrengo ministerial que não diz coisa com coisa nas desculpas improvisadas. Ou a inacreditável confissão presidencial de que a crise no agronegócio "pegou o governo de calças curtas".
Com o presidente ausente, viajando em ritmo de campanha pós-eleição, os ministros do primeiro time entretiveram-se em longa reunião para discutir a crise do sistema de controle de vôo e chegaram à luminosa conclusão de que as medidas emergenciais adotadas pelo Ministério da Defesa, Aeronáutica, Anac e Infraero não desataram o nó que desgasta o governo.
Dever cumprido, reunião encerrada. O governo acéfalo aguarda a posse do presidente Lula para a arrancada no próximo mandato. Até lá, o jeito é relaxar para fugir do estresse.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/23/2006 01:59:00 PM      |