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Por Adriana Vandoni

Anos atrás para que uma pessoa fosse envolvida em um crime bastava uma testemunha. Essa testemunha contaria o que viu e ouviu. O acusado, claro que não seria preso de imediato, mas estaria sob forte investigação. O tempo passou e a fotografia se tornou a vedete de investigações, contra ela não havia argumentos. Estava registrado o crime. Como dizer que aquilo que se via não era bem como estava sendo visto? Essa foi uma época de grande expansão no mercado de trabalho de detetives particulares de “varas familiares”. Ter uma foto do marido entrando ou saindo do motel empurrou para o ostracismo a famosa prova do batom na cueca, absolutamente questionável e explicável. Mas uma foto? Era definitiva.
A tecnologia foi avançando e as provas criminais se tornando mais incisivas. Micro filmadoras e minúsculos gravadores passaram a ser o pavor dos corruptos incondicionais. E não adianta se dizer atento ou esperto, os equipamentos são tão sofisticados que dificilmente são notados. Certa vez estávamos jantando em família e uma amiguinha da minha filha (na época, ambas com oito ou nove anos), disse:
- tia, meu pai tem uma caneta bem fininha que não escreve, ela grava conversas.
- Jura minha linda? E quando é que ele usa?
- Ah isso eu não sei tia, ele usa no trabalho dele.
Não, ele não é um detetive particular, é um político. Em todo caso, achei muito bom saber disso.
O fato é que as provas criminais, beneficiadas pelos avanços tecnológicos e pelo uso de instrumentos eficazes e quase inquestionáveis, aumentaram as chances de elucidação de crimes. A tecnologia é uma grande contribuição para a justiça. Ôpa! A tecnologia era uma grande contribuição para a justiça. Até que chegou o PT.
Depois do PT nada comprova nada, muito pelo contrário, tudo “desprova” tudo. O que você viu não foi o que você viu. O que você gravou não é o que você escutou nem o que disseram. Nem a caquética prova do batom na cueca serve. Fotos? Que fotos? Não são fotos, são montagens feitas pela “zelite” direitista. Gravou minha voz? Está enganado, seu delegado. Essa voz não pode ser minha, nesse dia eu estava gripado e a voz da gravação nem fanha está. Mas o perito analisou! Cadê esse perito? Sinto muito, mas o perito morreu.
Veja bem este caso do deputado federal Carlos Abicalil (PT/MT), ou Abi, como é chamado pelos íntimos. Nada comprova que ele tenha relação com os integrantes da gangue do boato. Nadica de nada. Nem Cristo!
Valdebran Padilha, o mato-grossense preso com malas de dinheiro sujo (literalmente) em um hotel de São Paulo, era operador financeiro de campanhas do PT de Mato Grosso. Mas isso não comprova que ele tenha alguma relação com Abicalil, afinal, o nome de Valdebran não havia aparecido em suas prestações de contas eleitorais, exceto nesta. Tá certo! E desde quando captador ou operador aparece em prestação de contas? Marcos Valério aparecia na prestação de Lula?
Em 2003 Valdebran foi indicado para a diretoria financeira da Eletronorte por Abicalil e seu eterno pupilo Alexandre Cesar (ex-presidente do PT/MT), que no ano seguinte (2004) teve Valdebran como arranjador e doador de recursos para sua campanha à prefeitura de Cuiabá. Na mesma época, segundo um site da capital, Abicalil foi visto em um passeio pelo Rio Cuiabá a bordo de uma lancha de Valdebran. Mas eles não possuem relação alguma, diz o deputado. De certo ele nem sabia que a lancha era de Valdebran. Abicalil chegou à beira do Rio Cuiabá e gritou: - Ei, companheiro pirangueiro, posso dar uma volta nesta lancha? Simples de entender. Mas as pessoas falam!, sabe o que é isso? São a “zelites” reacionárias que não se conformam ao ver um simples professor primário passeando de lancha.
Vale lembrar que Valdebran foi novamente indicado por Carlos Bezerra (PMDB/MT) para o mesmo cargo na Eletronorte, em 2004. Ele também costumava operar para o PMDB e foi apontado por Ronildo Medeiros (sócio da Planan) como o elo entre Bezerra e a Planan. Vamos ver quando é que a polícia Federal vai descobrir uma ligação entre Valdebran, o PT e o PMDB de MT, e a gangue do boato.
Valdebran já trabalhou no gabinete de Abicalil e cuidava das emendas do deputado, há quem afirme que ele comparecia a todos os encontros entre o deputado e prefeitos de MT. Mas Abicalil nega isso, disse em nota que Valdebran nunca teve vínculo empregatício com seu gabinete. Mas isso não quer dizer que ele não tenha trabalhado para o deputado, mesmo sem vínculos formais! A menos que o Valdebran fosse um doido que ficava no gabinete e trabalhava sem que ninguém pedisse ou o pagasse.
Nesta última eleição Abicalil montou seu comitê em uma casa de Valdebran. Mas isso não diz nada. Oras, como a “zetites” são maldosas. Abicalil estava à procura de um imóvel, abriu os classificados de um jornal e viu a casa. Pronto, alugou, mas desalugou assim que o Brasil ficou sabendo. Uai, se seguia “normas legais de relações comerciais”, porque desocupou a casa? Ura meu, não estou endendendo nada!
Na semana passada a quebra (que tem sido feita à prestação) de sigilo telefônico revelou telefonemas entre Abicalil e os meliantes Expedito Veloso e Valdebran exatamente no período em que a compra de boatos estava sendo negociada. Aaahhh!, mas isso não prova nada! São apenas ligações! Isso só, pode evidenciar envolvimento do deputado? E se por acaso era só engano?
- Alô, é do hospital? - Não, é do deputado Carlos Abicalil. - Ah desculpe, foi engano. / - Pronto. – Pro favor, eu gostaria de falar com o companheiro Luiz. – Mas aqui não tem nenhum Luiz, o senhor ligou errado. – Então desculpe, foi engano. / – Alô, companheiro Nogueira, aqui é o Carlos. - Senhor, este telefone não é de nenhum Nogueira. - Mil perdões, devo ter-me enganado. / – Alô, Expedito? – Sim. - Expedito, meu santo, eu queria encomendar um milagre. - O senhor deve ter ligado errado, sou Expedito, mas não sou santo.
Estão vendo? Absolutamente possível, explicável e entendível!
Foram 29 ligações, é verdade. Mas todas, engano!


Editado por Adriana   às   11/20/2006 08:19:00 AM      |