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PAISANO NÃO DÁ GOLPE
Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
Esta conversa recorrente de ameaça ou risco de golpe é um velho e batido truque de toda véspera de eleições no contraditório das acusações cruzadas das denúncias fajutas dos favoritos e da choradeira dos desesperados, com a derrota socando a porta com as pancadas do pânico.
Vamos falar sério ao menos para tentar salvar uma cota mínima de credibilidade e compostura nesta pobre campanha de promessas e jactâncias do candidato-presidente, a um passo da reeleição, e o descontrole do candidato oposicionista, que não sabe mais o que fazer para deter a queda livre nas pesquisas.
E depois, sejamos honestos com o eleitorado: nem o eufórico candidato Lula acredita que a oposição esteja articulando uma trama civil, que não passa pelos quartéis, para alegar fraudes na mais limpa das eleições que o país jamais realizou – Eta! Escorreguei no cacoete presidencial dos superlativos – e muito menos a zonza turma do outro diz coisa com coisa quando rosna ameaças que não assustam um camundongo.
Chega a ser constrangedor repisar obviedades para deter a enxurrada de tolices da excitação dos insensatos. Todo mundo sabe que quem dá golpe é militar. E para rasgar os mapas eleitorais que consagrem o eleito por maioria absoluta, no segundo turno, passando por duas rodadas de urnas, só com a unanimidade das Forças Armadas, mobilização popular e forte pressão da sociedade. Como as marchas de milhares de mulheres que anunciaram os quase 21 anos da ditadura do rodízio dos generais-presidentes e a ajuda fundamental das disparatadas provocações do presidente Jango Goulart.
Ora, e com renovadas escusas, o panorama político e eleitoral é inteiramente diferente. Remoendo remorsos e purgando os pecados das torturas, violências e desvarios dos Doi-Codis, os militares vêm mantendo um comportamento exemplar. Com dose surpreendente de tolerância. Dos três ministros das três armas, com a criação do Ministério da Defesa não têm nenhum: batem continência para o civil, de livre nomeação do presidente. Quase todas, desastrosas.
Para arrematar, contando com a tolerância do possível leitor, ninguém dá golpe em cima de presidente eleito ou reeleito em dupla votação por milhões de votos. Seria incendiar o país, com o quebra-quebra nacional nas ruas e a baderna impondo a repressão de conseqüências imprevisíveis. E indesejáveis.
A campanha já esgotou o repertório de jogadas e equívocos nas últimas semanas em que a temperatura subiu à fervura dos excessos.
Poucos conservam a serenidade e a frieza de raciocínio nas declarações estapafúrdias ou no ronco surdo das ameaças. De um lado, o ministro Tarso Genro pendula no singular balanceio entre afirmações sensatas e explosões sem pé nem cabeça, como a comparação do candidato adversário com o execrável ditador chileno Pinochet. Um trompaço na irreflexão leviana.Vá lá que o candidato-presidente não cultive o vício da leitura, mas o ex-governador gaúcho honra-se do seu diploma. O que o candidato Geraldo Alckmin disse, claramente, foi que “se o Lula for reeleito o governo acaba antes mesmo de começar”. E explicou: “No dia seguinte, já se começa a discutir 2010, discutir o futuro”.
Enterrar a praga da reeleição em todos os níveis, na próxima, urgente e inevitável reforma política, será uma das raras dádivas da campanha que corre para a decisão no último domingo do mês, 29 de outubro.
No dia seguinte, conhecidos os resultados, ninguém falará em golpe. Com qualquer que seja a conclusão da longa investigação da Polícia Federal para apurar a origem do R$ 1,7 milhão, apreendido na mão de petistas para a compra do sumido dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra.
Alguém deverá pedir desculpas embrulhadas em explicações. E ponto final, que ninguém é de ferro.
No mesmo poço sem fundo serão sepultados os fantasmas de suspeitas e intrigas do lixo de todas as eleições.
E é fundamental que os personagens da opereta assumam as responsabilidades para a faxina em regra nos três poderes, a mais clara e límpida das exigências da sociedade que renovou o estoque de esperanças, produto raro no mercado e perecível em prazo curto.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/23/2006 01:38:00 AM      |