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O RISCO DO 2° MANDATO
Por Kennedy Alencar na Folha de São Paulo
A votação ainda transcorria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não estava reeleito, mas dois ministros importantes e que terão força no segundo mandato já prometiam mudanças na política econômica. Mau começo.
Tarso Genro (Relações Institucionais) falou em fim da "era Palocci". Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que a economia passará para o "segundo momento" porque foi concluído um "conjunto de ajustes".
A credibilidade econômica do governo Lula foi conquistada a duras penas. Quando o presidente diz que recebeu o país quebrado em 2002, não reconhece que havia, sim, um temor do mercado em relação às idéias econômicas que implementaria no governo. Era a época do risco-país recorde, da falta de linhas de crédito para exportação etc.
No poder, Lula aplicou uma dura ortodoxia fiscal e monetária. Um dos fatores que ajudaram Lula a superar a crise política foi não ter havido uma crise econômico simultaneamente. Mesmo nos piores momentos dos escândalos do mensalão, a economia não foi afetada.
Diretores do Banco Central que Lula queria demitir no começo de 2005 (chegou a dar ordem a Palocci nesse sentido) sobreviveram porque os petistas "desenvolvimentistas" tinham de se preocupar com Roberto Jefferson e os desdobramentos de suas entrevistas à Folha.
Com o perdão da má poesia, quando José Dirceu falava de economia, o mundo caía. Tarso e Dilma abordam a economia muito mais do que tratam de suas respectivas áreas, articulação política e gerenciamento do governo. Estão fazendo o que o ex-ministro da Casa Civil: influenciar áreas que não estão diretamente sob comando.
Guido Mantega, ministro da Fazenda, virou um espécie de auxiliar da Casa Civil. Tenta se manter no cargo com apoio de Dilma e Tarso, além da fidelidade extrema ao presidente. É curioso e irônico que, no dia da reeleição de Lula, não tenha sido ele a dar a notícia de mudanças na economia.
Ora, achar que foi "concluído um período de ajustes" é de uma cegueira econômica tremenda. Houve ampliação dos gastos públicos no ano da reeleição de Lula. A questão fiscal é fundamental.
Lula ontem foi ambíguo, na sua primeira entrevista após reeleito. Disse que manteria uma forte política fiscal, mas soltou uma frase preocupante: "Conseguimos resolver o problema da macroeconomia". Não é verdade.
Lula corre dois riscos. O primeiro é não fazer nada na área fiscal. Fernando Henrique Cardoso cometeu o mesmo erro quando resolveu surfar nas ondas do populismo cambial. Adiou uma desvalorização que aconteceu à sua revelia em 1999, quando o país quebrou.
O segundo risco é o mercado começar a acreditar que Dilma e Tarso vão dar as cartas na economia. Se essa versão cola, Lula poderá jogar fora todo o sacrifício que fez nos últimos quatro anos.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/30/2006 03:54:00 AM      |