Por Jayme Copstein - Rádio Gaúcha
O Manoel é aquele português chato que não inventa piada de brasileiro porque a concorrência do próprio brasileiro é invencível. Ele me telefona: “O Paulo Maluf não foi condenado a perder os direitos políticos por dez anos?” – Foi, respondo. “Se foi, como vai assumir uma cadeira na Câmara Federal?” – Bom, foi eleito com mais de 700 mil votos. O Manoel estranha: “O eleitor brasileiro que fala tanto contra a corrupção, não sabia que ele estava sendo processado por corrupção?” – Sabia, Manoel. “E mesmo assim votou nele...” – Votou, Manoel. “Ah, entendo. O processo era recente, ninguém sabia...” – Não, Manoel. O processo rolava há dez anos no Judiciário. Todos sabiam. – Ah! Então a prova é que era difícil? – Não, Manoel. A prova era bem simples: campanha eleitoral feita com dinheiro público. “Ah! Eu entendo. Para a Justiça brasileira, a prova simples é que complica o julgamento. – Não exagera, Manoel. O Judiciário anda sempre muito ocupado. “De facto (português fala assim). O papa levou mais de mil anos para decidir que o limbo não existe. Como decidir em 10 anos o sexo dos anjos.... Mas agora terminou: o Maluf perde o mandato, paga multa de três milhões de reais e devolve outro milhão à Prefeitura de São Paulo...” – Não, Manoel. Ele só foi condenado na primeira instância. Vai entrar com recurso na Segunda Instância. Deve demorar mais quatro anos. “Ué, estranhou o Manoel. Quatro anos não é o tempo de mandato dele?” – É, é o tempo do mandato.; “E ele pode votar uma lei anistiando seu próprio crime, não pode?” – Pode, Manoel. Pode. Antes de desligar, o Manoel soltou: “Hum!... que país gracioso.”
Editado por Adriana às 10/13/2006 04:47:00 PM |
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