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CAMPANHA PERMANENTE
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
As eleições dominaram o cenário durante quase todo o 1º mandato de Lula
Formalmente, terminou ontem a campanha eleitoral. A mais longa da história, pois a disputa eleitoral prevaleceu sobre qualquer outro assunto e serviu de pano de fundo a todos os debates durante praticamente todo o mandato do presidente Luiz Inácio da Silva.
Lula nunca desceu do palanque onde passou a vida toda e isso ficou muito bem demonstrado por seu estilo discursivo de governar, com grande apreço a pronunciamentos - não raro dois ou três por dia - e aversão a entrevistas e questionamentos em geral. Em quatro anos, só deu uma entrevista coletiva - contrariando prática comum nas democracias - e só se dispôs ao contraditório quando lhe interessou: agora, no segundo turno da campanha pela reeleição.
A oposição, por sua vez, resolveu subir no palanque quando começaram a aparecer os escândalos de corrupção. PSDB e PFL, que no início não viam chance de voltar ao poder tão cedo, passaram a considerar fortemente a hipótese de Lula não se reeleger.
Contribuiu para a animação oposicionista a vitória do PSDB em São Paulo, com José Serra, e a derrota imposta ao PT no Rio Grande do Sul, com a eleição de José Fogaça para a prefeitura de Porto Alegre, depois de 16 anos de administrações petistas.
Em dezembro de 2005, um ano marcado por adversidades, a oposição vislumbrava a vitória na sucessão presidencial quase que como uma certeza. Lula vivia seu período de popularidade mais baixo.
Em março, com o presidente já em franco estado de recuperação, o PSDB escolheu para disputar com Lula seu candidato menos competitivo. Ficou com Geraldo Alckmin porque, como diz agora a campanha do PT, não quis trocar o certo pelo duvidoso e optou por garantir o governo de São Paulo, com José Serra.
Se ganhasse a Presidência com Alckmin, estaria no lucro. Se não, aguardaria a vez na esperança de que Lula padeça do mesmo veneno que vitimou os tucanos na campanha de 2002: o imenso desgaste provocado por 8 anos de poder.
É nisso que o PSDB aposta agora. O partido está como Roberto Jefferson: sublimou a derrota, adotou o discurso segundo o qual é melhor Lula na Presidência mais 4 anos, se enfraquecendo à medida que não puder atender às expectativas da população, do que na oposição ainda forte e se preparando para retomar o governo em 2010, atrapalhando os planos de José Serra e Aécio Neves.
É uma conta arriscada, visto que a oposição apostava também no 'sangramento' em praça pública do presidente neste último ano e o que se viu foi uma recuperação e capacidade de resistência invejáveis.
Mas, a despeito dos riscos, é nisso que a oposição aposta. E é por isso que a campanha eleitoral terminou de direito, mas, de fato, recomeça logo depois de proclamados os resultados de hoje e vai perdurar pelos próximos 4 anos.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/29/2006 01:53:00 AM      |