Por Miriam Leitão em O Globo A Petrobras cometeu erro atrás de erro na sua relação com a Bolívia. Para começar, não se preveniu. Há alguns meses, eu perguntei ao presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, antes da primeira invasão, se ele não deveria se preparar para o risco de o presidente boliviano, Evo Morales, decidir, depois de eleito, fazer o que ele vinha anunciando durante a campanha. Na época, Gabrielli bateu na mesma tecla em que a Petrobras vinha tentando bater até agora: de que os bolivianos dependiam do Brasil e, por isso, não fariam nada para atacar o país vizinho. Não foi isso que aconteceu. O segundo problema foi que, quando houve a ocupação - inclusive militar - das refinarias, a diplomacia não respondeu à altura. Obviamente, não se está falando aqui que o Brasil devia ter feito uso da força, com envio de tropas militares, porém a reação diplomática tinha que ser enérgica e imediata, e isso também não aconteceu.
Diante da ação violenta deles, o Brasil não reagiu e o próprio presidente Lula deu declarações ratificando a decisão boliviana; segundo ele, por ser pobre, a Bolívia poderia fazer o que fez. Pobreza, porém, não justifica que se rasguem contratos ou que se tomem empresas estrangeiras, como vem sendo feito com freqüência na Bolívia. Em todo este processo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem sido um personagem chave. Na véspera da invasão, por exemplo, ele se reuniu com o governo boliviano e ofereceu suporte técnico para a YPFB quando fosse feita a nacionalização das empresas. Chávez estimulou e depois apoiou a atitude de Morales. Em seguida, marcou uma "reunião de conciliação", de que Lula participou, na qual discutiu-se compensações para a Bolívia. A decisão arbitrária de Morales desta semana atinge, em tese, apenas as refinarias que fornecem para a própria Bolívia. Mas a verdade é que, com toda essa incerteza, não há como manter os investimentos que se pensava em fazer lá na produção de gás. Assim, empresas que contavam com o gás para crescer terão que rever seus planos ou mudar sua matriz energética. Essas recentes decisões do governo Morales só aumentam o risco dos negócios feitos no país vizinho. É muito ruim; para eles e para nós.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/18/2006 01:12:00 AM |
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