Por Marcelo Coelho na Folha de São Paulo A frase de Paulo Betti é fichinha perto do artigo escrito por Rose Marie Muraro, na Folha desta terça-feira. Para a autora, os grandes empresários e políticos da classe dominante fabricaram a noção de moralidade para que os dominados continuassem pobres, sem competir com eles [...] Ser moral dentro de um sistema imoral é legitimar a imoralidade. A ética só é verdadeira quando trata o problema a partir de suas raízes, transformando um sistema mortal e competitivo num outro em que as decisões sejam tomadas pela sociedade organizada de baixo para cima e que, portanto, possa suprir as necessidades de todos, e não apenas as de uma classe treinada desde que nasce para ter seus interesses atendidos a qualquer preço. Acho que só é honestidade a luta contra a injustiça. Vale repetir a frase-chave do raciocínio. “Ser moral dentro de um sistema imoral é legitimar a imoralidade”. Não dá para acreditar nessa enormidade. Se alguém está, de fato, legitimando a imoralidade, é Rose Marie Muraro. A partir daí legitima-se qualquer coisa, a rigor, em nome da luta contra a injustiça social. Condenar o assassinato num sistema assassino é compactuar com o assassinato. Não ser torturador num regime que tortura é legitimar a tortura. Qualquer fuzilamento será apoiado desde que para construir um regime socialmente justo. O menos que se pode dizer é que isso já foi tentado, e não se conseguiu criar um sistema capaz de “suprir as necessidades de todos”, com “decisões tomadas de baixo para cima”.
Tudo era mais fácil numa época em que o PT podia acusar a falência ética das elites, e apresentar-se como defensor, não digo nem mesmo de uma moralidade abstrata, mas de princípios republicanos e democráticos essenciais, como o de uma gestão transparente do orçamento, o não-loteamento de cargos para partidos fisiológicos, a distribuição de verbas segundo critérios técnicos, sem privilegiar prefeituras do próprio partido, o fim das concessões de rádio e TV a apaniguados... Rose Marie Muraro considera que, agora, vale tudo. Ela desenvolve uma curiosa teoria psicossociológica segundo a qual, desde a infância, os ricos são acostumados a ter seus desejos satisfeitos, enquanto os pobres, convivendo com a frustração, “apreendem” (?), sem questionar, “o mundo como expropriador de seus direitos essenciais”. Tornam-se então honestos. Muraro continua: Ou seja, a honestidade e a moralidade da maioria da população sempre foram o esteio da sociedade de classes. Não podemos negar então que Delúbio e Silvinho Pereira estavam, desse ponto de vista, exercendo uma obra de inestimável valor pedagógico. Ensinavam à população pobre que a moralidade era apenas um instrumento utilizado pelo opressor. Pena que tenham sido afastados de seus cargos. Eram legítimos revolucionários. Mas não nos preocupemos em demasia. Se o PT ainda está dando seus primeiros passos na crítica à honestidade, Marcola e os pessoal do PCC são prova de que há desonestos e imorais à vontade, junto aos setores dominados da população, capazes de nos levar rapidamente ao mundo socialmente justo e democrático que tanto almejamos. Podemos então desistir de ética na política. Para que moral? Temos Muraro.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/14/2006 04:47:00 AM |
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