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SEM EMPREGO E SEM ESPERANÇA
por Cássia Almeida em O Globo
São 2.739.905 pessoas que gostariam de trabalhar, estão disponíveis para isso, mas nada fizeram para conseguir um emprego. Essa população de trabalhadores inativos — só nas seis principais regiões metropolitanas do país — supera o universo de desempregados que, em junho, somavam 2,3 milhões, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Se, de uma hora para outra, esse contingente resolvesse sair em busca de uma vaga no mercado de trabalho, a taxa de desemprego oficial do país, medida em Rio, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, subiria dos 10,4% atuais para 20%.
Esses trabalhadores fazem um dos principais indicadores da atividade econômica flutuar. Para se ter uma idéia, 391.669 pessoas, de um total de 628 mil que procuraram emprego no último ano, estão aguardando resposta de alguma entrevista. Se o resultado for negativo e todos se somarem à força de trabalho — voltarem a procurar emprego — a taxa de desocupação passará para 11,9%.
— Se estão aguardando resposta, a ação para achar colocação existiu. Isso acaba disfarçando um pouco o número do desemprego. Mas há o lado positivo. Se eles voltarem ao mercado, ficará constatado que a economia está melhorando, que há mais chances — disse Cimar Azeredo, gerente da PME, que cruzou os números da pesquisa, num levantamento inédito feito a pedido do GLOBO.
— Quando o mercado de trabalho melhora, as pessoas voltam a procurar emprego. A tendência é que muitos voltem ou como ocupados ou como desempregados — explica João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ e um estudioso do mercado de trabalho.
Falta de dinheiro faz parar a procura
Outras razões afastam esses trabalhadores do mercado. Um dos mais importantes é a falta de dinheiro. São 64.908 pessoas que pararam de procurar uma vaga por dificuldades financeiras. Foi esse motivo que levou Monique Evelin Silva Picanço, de 21 anos, a parar de procurar. Desempregada desde 2003, conseguiu nesse período apenas uma vaga temporária numa loja no período natalino. Há um mês desistiu. O gasto com transporte, cópias dos currículos e com fotos ficou alto:
— Está muito difícil. Sou professora formada e tenho curso de informática, mas ninguém aceita sem experiência. Tive que parar de procurar por enquanto.
Monique, o pai e o irmão moram juntos. Mas, ainda assim, a situação financeira da família é precária. Contam apenas com R$ 120 que o pai ganha num trabalho temporário e algumas ajudas:
— Ele está desempregado há cinco anos. Contra ele, tem a idade.
A falta de dinheiro para procurar emprego é uma realidade mais comum no país do que se imagina, diz o economista Claudio Dedecca, da Unicamp. Ele lembra que em países desenvolvidos, como a Alemanha, os sistemas públicos de emprego distribuem tíquetes para condução:
— Chega-se a gastar até R$ 8 por dia com transporte. Isso dá para comprar cinco quilos de arroz, três de frango. Quando a situação aperta, a pessoa pára de procurar. Isso se nota muito no carnaval e no Natal, quando a procura diminui e a taxa de desemprego cai. O gasto costuma ser infrutífero nessas épocas.
Mais de 53 mil voltam a estudar
A dificuldade para encontrar uma vaga acaba levando trabalhadores a optarem pelo estudo, para mais tarde voltarem ao mercado mais preparado. Eram 53.610 pessoas nessa situação em junho. Nesse grupo, inclui-se o economista e advogado Marcio Bianco. Aos 37 anos e com MBA em finanças, ele desistiu de procurar uma vaga na sua área. A fuga das empresas financeiras do Rio para São Paulo afastaram as vagas de Bianco:
— Resolvi tentar outra carreira. Agora estudo para tentar entrar no serviço público. Vou tentar concurso para o Ministério Público, Defensoria. Parei de procurar.
A situação de Bianco difere um pouco do estudante clássico que quer trabalhar. Normalmente, segundo Dedecca, eles esperam uma oportunidade, mas não vão para rua à procura de uma vaga.
O desejo de trabalhar misturado à frustração de não conseguir vaga, por sua vez, foi o que levou 68.767 pessoas a desistirem de procurar. Esse grupo é o mais preocupante para Saboia. É o desalento clássico, para quem a esperança realmente acabou.
E o percentual desses inativos que desejam trabalhar muda conforme a região. Onde há mais informalidade, a taxa é menor. No Rio, região onde o trabalho informal é maior, apenas 8,3% são inativos que podem e querem trabalhar. Em São Paulo, a taxa sobe para 15,7%.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/06/2006 02:11:00 AM      |