Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
QUANTO VAI CUSTAR?
QUANTO VAI CUSTAR?
Ralph J. Hofmann – 18/08/06


Notícias alvissareiras? 

A Petrobrás nestes dias anuncia a aquisição de blocos de exploração de petróleo em vários países. No Mar Negro, no Golfo do México e sabe lá o que mais.

Notável!  Será que os funcionários da Petrobrás foram consultados?  Eles tem se mostrado historicamente hostis a qualquer concessão em terras brasileiras.  Não ouço nenhum clamor contra a aquisição de blocos no exterior.  Perderam a voz?

Por favor, não me interpretem mal.  Sou a favor de a Petrobrás obter concessões no exterior, como sou a favor de uma pluralidade de companhias petrolíferas no Brasil. Os anos vieram a provar que no Brasil opera uma empresa monopolista com uma área técnica excepcional, de vanguarda, mas que como empresa cerceia qualquer desenvolvimento de energia alternativa que não seja controlada por ela. Coitadinhos dos magnatas do petróleo e aço americanos do início do século XX.  Nunca tiveram nem perto de um monopólio desses.

Nesta mesma semana ficamos sabendo que usinas de energia no Mato Grosso estão recebendo 30% do gás contratado de nosso vizinho boliviano.  Após reclamar, na semana em curso receberam 60%.  Um pesadelo!  Foi feito um investimento em energia que vai ter de ser amortizado a uma média de 45% da produtividade prevista. Lá vai o custo da energia! E lá vai qualquer respeito sequer a uma aparência de relacionamento cliente/fornecedor, já deixando de lado o fato de que as instalações na Bolívia foram construídas com dinheiro brasileiro que será remunerado no dia de São Nunca.  .

Em todo o "affaire" Bolívia  os interesses brasileiros foram sacrificados em favor de um mapa astral que está na cabeça dos atuais pajés do Itamaraty e da presidência da república.

Quem nos garante que amanhã,  após descobrirmos petróleo ou gás do outro lado do mundo um governo local não nacionalizará esses ativos e nos informará que vai usar o critério boliviano, ou seja :  "Tirei de você, e pode ficar chupando seu dedo. Exijo o mesmo tratamento da Bolívia."  Foi criado o precedente. O Brasil é o pato da vez.  Entregou a rapadura sem antes procurar uma arbitragem internacional.

Nos anos 70 o Brasil descobriu reservas no Iraque.  Já na época achou mas não levou. Mas a Braspetro negociou até o último centavo. O governo iraquiano pagou uma parte, comprou produtos brasileiros em um volume bastante grande como outra parte da compensação, aceitou troca de petróleo por bens e serviços brasileiros, ou seja, não ficou de graça, a Petrobrás acabou por receber o que lhe era devido.

Naquela época não se ouviu uma única declaração do Presidente da República, do Ministro de Minas e Energia, do   Ministro da Relações Exteriores.  A empresa, que era a parte lesada negociou,  naturalmente com algum suporte técnico do Itamaraty,  procurou a indústria privada para celebrar parcerias de trocas de mercadorias (Countertrade), e tudo foi resolvido. Na época, antes da Guerra do Golfo I, chegou-se a criar um grande mercado para a indústria brasileira como um todo. 

Mas o ambiente atual nas estatais, agências, e autoridades reguladoras não é mais o mesmo.  Um presidente que abomina a palavra escrita chegou ao poder.  Trouxe a tiracolo em grande parte pessoas escolhidas por sua fidelidade partidária, ação no sindicalismo, suporte na montagem de formas de desvio de recursos, do que experiência e qualificação para gerir enormes ativos. Nomeou essas pessoas para gerir todos os aspectos da vida nacional.  Some-se isto a vícios de origem nas repartições públicas politizadas, o conceito de que sempre se pode repor alguma perda aumentando ou antecipando os impostos.  Combine-se ainda um desprezo ao mero "civil" que paga os impostos e vemos o país, na pessoa do presidente simplesmente acenar adeus às perdas  que escorrem pelo vaso sanitário.  

Só falta essa turma rotular o contribuinte de "mesquinho" por regatear os benefícios concedidos aos povos amigos.


Editado por Adriana   às   8/18/2006 09:56:00 AM      |