Por Onofre Ribeiro Encerro esta série de dois artigos com uma triste conclusão: a de que os políticos com mandato eletivo têm se perdido nos desvãos da vida política, mais por culpa dos partidos que os deixam soltos, do que pela sua ação desvairada. Recordo que no tempo dos partidos fundados pós-1945, havia uma capilarização que fiscalizava a oposição e, no governo, fiscalizava seus membros em nome da sobrevivência da estrutura partidária. A perda dessa essência deu-se a partir da bipartidarização desde 1967, feita pelo governo militar. Posteriormente, os partidos entraram na dança do poder pela via das coligações de conveniência mais do que de qualquer ideologia ou filosofia. O que se tornou mais costumeiro foi que eles, em nome da governabilidade, sacrificassem seus princípios ideológicos partidários mais caros em função de um acordo que os permitisse cumprir com certa eficácia os seus desígnios de governo e de administração. A tendência mais comum, pois, foi sacrificar as idéias, os programas e a representavidade, em nome da ordem e do bom andamento das coisas, tentando evitar crises políticas danosas ao controle que as elites exerciam e exercem sobre o país-continente.
Essa estratégia de sobrevivência adotada por muitos políticos de vulto, de evitar crises políticas graves que pudessem enfraquecer de modo irreparável o poder das elites, fez com que os partidos políticos merecessem pouca confiança da parte da população brasileira em geral, daí haver uma preferência dos eleitores por indivíduos, por homens confiáveis, por “salvadores”, mas não por programas partidários ou ideológicos. A propósito, registro o e-mail, muito esclarecedor, que recebi do economista Paulo Ronan: “Dispensável dizer que minha militância sempre se resumiu ao jogo partidário. Vi o PSDB ser magro, ser gordo e emagrecer de novo. Normal. Assim será com o gordo PPS quando sair do poder. Concordo que os partidos podem jogar um papel agora neste momento se souberem lidar com os sanguessugas. Entretanto, os partidos vêm sofrendo um processo de mediocrização depois que inventaram esta maldita palavra “governabilidade”. Os governantes, buscando esta coisa e querendo um conforto da falta de oposição, criam uma base de apoio com quase 100% e acabam com os partidos que, quando chegam ao poder, abrem mão de ser um partido, uma parte da sociedade, para ser o todo. Se governa para toda a sociedade mas respeitando a parte que o partido representa”. Possivelmente o eleitor queira mais cenários futuros do que essa leitura crítica. Ele quer saber o que virá depois da tensa eleição aos quadros parlamentares deste ano. Só Deus sabe. Seria preciso que os parlamentos estaduais e federal compreendessem que o modelo está esgotado. Isso pediria uma reforma política ampla. Como grande parte será reeleita e, com isso, se sentirá legitimada e limpa pelas urnas, vai impedir a todo o custo qualquer reforma profunda. Em política é assim: a sobrevivência justifica qualquer gesto tresloucado por mais um mandato. A justiça social, se é que servirá de consolo aos anseios do leitor, é que chegará mesmo só depois de 2010. Até lá, “me agüentem”, dirão os sanguessugas e afins.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/19/2006 04:32:00 AM |
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