Por Giulio Sanmartini

A violência banalizou-se no Rio de Janeiro, não posso falar do inconcebível assassinato do menino João Helio, o fato me dói tão intensamente, tão internamente e tão intimamente, que por pudicícia prefiro guardar esse sentimento só para mim.
Há mais de vinte anos o banditismo associado ao governo e à polícia vem dominando a cidade e perdendo totalmente a idéia dos limites. Misturam-se no mesmo sinistro balaio, bandidos, milícias, polícia corrupta e sem recursos materiais. Ao cidadão do Rio de Janeiro, cabe todos dias saber, quantos foram os tiroteios, quantos foram os mortos entre bandidos, policias e inocentes pessoas atingidas por balas perdidas; quantos foram os coletivos queimados, quantas pessoas foram queimadas vivas dentro dos ônibus, tudo feito gratuitamente, numa demonstração de força intimidante que age à sombra da impunidade e da conivência.
O fato se agravou nesses dias, quando pessoas de bem sem saber o que fazer, lançaram-se à perigosa e inconcebível vontade de fazer justiça com as próprias mãos, usando para isso a horrenda tentativa de linchamento.
A cada tragédia, como essa do menino João Helio, saem de suas tocas juristas e políticos hipócritas a pregar soluções inexeqüíveis e demagógicas, pois temem somente o clamor público e este já está nas ruas.
A solução não é simples pois implica na moralização da política, do ministério público e da magistratura. Como atingir esse objetivo? sinceramente não sei, quem deve saber e fazer são aqueles que ganham para isso salários provenientes dos impostos que pago pontualmente.
A fotografia que ilustra essa matéria é o espelho do horror e desespero que se vive na cidade. Nessa cidade que amo de paixão e passei quase toda minha vida, é onde estão meus filhos e meus netos, que são a continuidade da minha vida, que me darão a vida eterna neles e em seus descendentes.
Vejo com profunda tristeza esse Rio de Janeiro que, implacavelmente, a cada dia está sendo profanado, violentado, ultrajado e vilipendiado.