Por Adriana Vandoni
Os convidados começavam a chegar à Assembléia Legislativa de Mato Grosso para a posse dos deputados estaduais. A poucos metros dali, em frente às secretarias estaduais de Educação e Agricultura, um militante do MCCE - Movimento de Combate ao Crime Eleitoral, era espancado por dois desconhecidos. Gilmar Bruneto, o militante, só conseguiu escapar da inicial tentativa de seqüestro porque gritou e resistiu, mas não se livrou dos socos dos dois homens. Gilmar estava à espera de outros integrantes do MCCE que iam fazer uma manifestação na porta da Assembléia em protesto à posse de alguns parlamentares envolvidos em crimes eleitorais. O movimento elaborou um jornal que seria distribuído aos convidados. Nele constavam algumas denúncias feitas pelo Ministério Público e Justiça Eleitoral contra diversos parlamentares. Segundo Bruneto, os homens que o agrediram deixaram claro que o motivo era impedir a manifestação.
No jornal são citados os deputados Mauro Savi (PPS), Chica Nunes (PSDB) e José Riva (PP), denunciados pelo Ministério Público Federal perante a Justiça Eleitoral, por prática de abuso de poder econômico, compra de votos e captação ilícita de recursos para a campanha de 2006. Esses parlamentares correm o risco, teoricamente, de perderem seus mandatos. Mas o alvo principal do manifesto é o Deputado José Riva, que aparece na capa, e o deputado Humberto Bosaipo (PFL). Os dois são apontados pelo Ministério Público como responsáveis pelo desvio de R$ 65 milhões. Só em ações cíveis de improbidade administrativa o deputado José Riva é citado em 25, segundo o MCCE. O novo 1º secretário se alterna desde 1998 nos cargos de presidente e 1º secretário da "Casa do Povo" de Mato Grosso. Para os brasileiros não familiarizados com os nomes Riva e Bosaipo, eles passaram a ser investigados depois que começou a ruir o esquema de lavagem de dinheiro montado pelo "Comendador" Arcanjo, bicheiro e chefe do crime organizado em Mato Grosso, hoje preso. Na época eles se revezavam nos cargos de presidente e 1º secretário. O Ministério Público descobriu então ligações entre a Assembléia Legislativa e as factorings de Arcanjo, e uma engenhosa operação financeira onde eram usadas empresas fantasmas e funcionários feitos de laranjas. Pitoresca foi a descoberta de duas empresas em nome de um senhor morto dois meses antes das empresas serem abertas. O sobrenatural é que cheques continuaram a ser emitidos com a assinatura do morto, mesmo três anos após sua morte. É claro que não poderia atribuir a quem quer que seja a agressão cometida contra Gilmar Bruneto. Isso cabe às autoridades competentes. Mas o fato é que estas são pagas com dinheiro do cidadão e devem agir para defender os direitos e interesses destes. Devem-nos uma satisfação! Eu, como cidadã, repudio, com todas as palavras que puder escrever, esse atentado contra a democracia e sua livre manifestação. Outro caso ocorreu no dia 24 de janeiro, quando o MCCE convocou a imprensa para uma coletiva na sede da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. O objetivo era manifestar a indignação de setores da sociedade civil ao constatarem que a Assembléia de MT ia continuar comandada por alguns parlamentares que o Ministério Público e a Justiça Eleitoral denunciam e investigam. Em meio aos jornalistas, dois rapazes se apresentaram como estudantes de direito e começaram a tumultuar a entrevista gritando que aquilo era uma "uma manifestação política contra Riva". Um dos presentes reconheceu os rapazes como funcionários da Assembléia de MT. Se a mando da Assembléia, a simples presença dos dois, mesmo que não falassem nada, já seria um ato de coação, de constrangimento, uma agressão tanto aos integrantes do movimento quanto aos jornalistas. E isso aconteceu dentro do prédio da OAB, um órgão que tanto lutou pelo restabelecimento das liberdades democráticas no Brasil. Ainda não soube de quaisquer ações da OAB a respeito do episódio. Entrevistei Antonio Cavalcanti, o Ceará, presidente do MCCE, e perguntei o motivo das denúncias não irem adiante e ele foi enfático: "um forte poder de articulação". Para bom entendedor, meia palavra basta. Segundo afirmações do MP, as denúncias que conseguem chegar à Assembléia são impedidas de seguirem adiante pelos próprios parlamentares, fazendo com que o direito à imunidade parlamentar, que assegura a liberdade da palavra no exercício da função, vá muito além disso. Não sei quem são os autores da agressão, nem se há mandantes e quem possam ser os responsáveis pelo covarde ato de agressão ao cidadão Gilmar Bruneto, mas não podemos nos calar diante dessa tentativa de cerceamento do direito soberano de manifestação. Que fique claro que não compactuo com badernas, mas não me parece ser baderna distribuir jornais na rua. Ações desse tipo só aconteceram durante a ditadura, quando estudantes eram presos, e muitos assassinados, por distribuírem panfletos contra o regime militar. A barbárie dos agressores deve ser repudiada pelas instituições e pelas pessoas que prezam pela justiça, pela liberdade de e xpressão e de manifestação. A nossa sociedade não pode se calar perante tal absurdo. Espero que as autoridades competentes tomem atitudes dignas e reprimam os responsáveis. Que sejam descobertos, apresentados à sociedade e punidos conforme as Leis que ainda regem este país. Atos como esses representam um retrocesso na consolidação da democracia brasileira, uma ameaça aos direitos dos cidadãos.
Editado por Adriana às 2/03/2007 11:14:00 PM |
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