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ADEUS RIO DE JANEIRO!
Por Giulio Sanmartini

Cheguei no Rio de Janeiro vindo da Itália, em 1946 e fui morar no subúrbio industrial do Jacaré, lá passei toda minha infância e adolescência. Era considerado um bairro violento para os padrões da época, a favela de Jacarezinho homiziava alguns criminosos, dizia-se ser perigoso sair depois da 22 horas. De fato, tinha 10 anos quando assisti a primeira cena de grande violência de minha vida. As janelas de nossa casa davam direto na rua e dormia-se com a do meu quarto aberta, pois tinha uma grade pantográfica. Dormia no mesmo quarto meu tio, quando já no início da madrugada alguém bateu na grade pedindo socorro, fomos até lá, tratava-se de um casal, mas adiante estava um vigilante e uma pessoas com a calça “boquinha” puxada até a metade da perna, notei que enfiava alguma coisa no policial, este ferido ainda disse: - Vocês são covardes só pegam pelas costas.
Pude ver também outra pessoa que estava escondida atrás de uma árvore, o vigilante sacou o revolver e os dois correram, houve um tiro e depois silêncio.

O ferido andando com dificuldade foi até a esquina que ficava 4 prédios depois, abaixou-se de cócoras e caiu para trás, meu tio chamou, pelo telefone a policia e o pronto socorro (ambulância).
A rua estava cheia de gente quando ambulância chegou, o médico tentou alguma coisa, mas o policial depois de um suspiro profundo morreu
O tiro que ele deu acertou o ladrão que foi encontrado morto pouco adiante, ainda com um furador de gelo na mão ensangüentada.
Tempos depois surgiu a Guarda Noturna, uma polícia particular que permitiu às pessoas andarem de noite, o policiamento ostensivo feito por dois soldados da Polícia Militar que passaram a ser conhecidos como Cosme e Damião, vivia-se normalmente com todas mazelas típicas das grandes cidades
Durante os 50 anos que vivi no Brasil rodei muito, trabalhei em remoção de favelas, fui o primeiro administrado de Cidade de Deus, morei ba Boca do Lixo (rua dos Gusmões) de São Paulo e nunca fui assaltado ou sofri qualquer tipo de violência.
Acompanhei a degradação da polícia do Rio de Janeiro implantada por Leonel Brizola e seus seguidores, pois estavam associados ao crime organizado, mas estando dentro da cidade não percebia a gravidade das mudanças. Fiquei fora do Brasil por oito anos, voltei em janeiro de 2006 para passar 3 meses, hospedei-me em Copacabana, com dois dias de chegado fui com minha nora e meu filho jantar na Ilha do Governador, quando estávamos na avenida Brasil havia alguma confusão, de repente vejo um policial barrigudo, mal ajambrado, com a abarba por fazer apontar uma metralhadora para dentro de nosso caro e ver quem estava dentro, foi chocante. Dias depois um assalto num apartamento da avenida Atlântica em que o ladrão tomou a arma de um segurança e matou uma pessoa que tranqüilamente tomava seu chope num bar perto.
Fiquei realmente acabrunhado em ver ao que se reduzira a cidade de minha vida, onde passara minha infância e juventude, onde nasceram meus filhos e meus netos.
Recentemente aconteceram os incêndios aos ônibus numa demonstração de força dada pelos bandidos e na semana passada a violência em Mangueira. A fotografia mostra tudo, um carro pegando fog, o terror estampando na face dos que fogem dos tiros e um curioso que protegido por um poste assiste a essa cena de banditismo explicito.
Adeus Cidade Maravilhosa!


Editado por Giulio Sanmartini   às   1/23/2007 02:05:00 AM      |