Ralph J. Hofmann – 14/12/06
Pobres Perdedores? Aníbal joga sua espada sobre o prato da balança já viciada que pesava o resgate de Roma e informa que os vencidos precisam agüentar tudo que se lhes faça. Inclusive tolerar uma balança viciada que aumentava a quantidade e ouro do resgate.
Ontem, ao fazer com que o exército exonerasse publicamente o neto de Pinochet foi com efeito o que aconteceu. Não que a Bachelet tivesse vencido a queda de braço com o regime Pinochet. O regime fez as malas e foi para casa.
Mas aqueles de nós que estivemos a trabalho no Chile na década de setenta, e que tínhamos ocasião de conversar com economistas e administradores oriundos das esquerdas, inclusive alguns que se auto-descreviam como comunistas sabemos que mesmo as esquerdas não iam lá com a cara de Allende. De fato, preferiam Pinochet a Allende. Allende era um “playboy” rico de esquerda. Não sendo um sujeito lá muito preparado estava perfeitamente disposto a permitir que o Chile se tornasse um clone cubano. E não era nada disso que as esquerdas chilenas queriam. Se tinham saudade de alguém era de Eduardo Frey, que trabalhara dentro de uma estrutura constitucional.
Uma das características estranhas de um governo dito totalmente repressor como o de Pinochet é que todos esses meus interlocutores, abertamente socialistas e comunistas, continuavam a dar aula nas universidades de Santiago.
Sim, Bachelet como ex-perseguida política não precisava ir à cerimônia fúnebre de Pinochet. Mas sim, também se o país é credor de Pinochet pelas torturas e execuções deve a ele por outra execução. A execução de um plano econômico que deu certo. Nem totalmente santo nem diabo. Lembra Getúlio Vargas? Fez o que pode como sabia fazer. Morto não deveria ser um novo pomo de discórdia. Aliás, ao contrário. Fez o favor de morrer na hora certa que permitisse encerrar a discórdia.
Contudo a exoneração pura e simples de seu neto abre nova ferida. E feridas costumam inflamar-se, infectar-se virar gangrena.
Que é que desejavam ver? O neto de Pinochet calado? É o neto. O general-presidente o segurou no colo. Brincou de cavalinho com ele.
A disciplina da caserna? Nesse caso teria sido melhor uma censura e transferência pelos próximos quatro anos para a estação chilena na Antártida. Não criaria uma nova liderança.
Decididamente a Bachelet perdeu uma bela oportunidade de ficar no seu cantinho e meramente mandar um bilhetinho ao Ministro do Exército.
Editado por Ralph J. Hofmann às 12/14/2006 10:14:00 AM |
|