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Coalizão ou conchavo de “Salvador da Pátria”?
Etienne P. Douat – Empresário /13/12/06


O presidente da república tem falado, insistentemente, em “governo de coalizão”, alegando ser imperativo, para o Brasil, que todas as forças políticas se unam em torno de um esforço suprapartidário na busca da viabilização de um ciclo de crescimento auto-sustentado.
Aparentemente convenceu-se de que o “milagre do crescimento” não depende da vontade pura e simples de um “pai dos pobres” que teve a iluminada idéia de que a única forma de distribuir riqueza é criando-a e acumulando-a, antes de dividi-la.
Parece ter percebido também, que, para tanto, há que se criar condições de infra-estrutura física e legal para isso.
Uma surpresa, mesmo tendo lá minhas dúvidas de que foi essa a conclusão, mas pode significar um avanço.

Uma segunda surpresa, também, protagonizada pelo presidente durante a cerimônia de entrega dos prêmios, Brasileiro, Empreendedor e Personalidade do Ano, pela Editora Três, aconteceu durante o seu discurso, quando disse, “Porque eu acho que é a evolução da espécie humana; quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito, se você conhecer uma pessoa muito idosa, esquerdista, é porque ela tem problemas. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita é porque também tem problemas. Então, quando a gente está com 60 anos, doutor (Antonio) Ermírio, é a idade do ponto de equilíbrio em que a gente não é nem um nem outro. A gente se transforma no caminho do meio, aquele caminho que precisa ser seguido pela sociedade (sic)”, provocando aplausos e risos da platéia.
O significado, apesar de confuso, pode mostrar uma nova tendência das idéias presidenciais. Isso após, há poucos dias, no calor da campanha, bradar impropérios contra o que chama de neoliberalismo, atacando as privatizações, os juros, os banqueiros, os empresários, incentivando a divisão entre pobres e ricos e o sectarismo social entre Nordeste e o Sul/Sudeste, afirmando que era o candidato dos pobres, e que para eles governaria.
Depois dessa confusão, é de se imaginar o que há de ter pensado o símbolo dos “gurus” da esquerda delirante brasileira, a sra. Marilena Chauí, de tão ousada declaração do seu mais famoso pupilo!
Mesmo correndo o risco de ter mal interpretado a confusa declaração, pode significar outro avanço.



O senador Cristovam Buarque, em discurso na tribuna do Senado, 12 de novembro, fez uma análise interessante sobre o assunto.

Dizia o senador que uma coalizão em torno da vontade de fazer o país crescer, por exemplo, é uma redundância porque não há rigorosamente ninguém, em sã consciência, seja que princípios políticos defenda, que não concorde com isso.
Uma coalizão pressupõe um consenso suprapartidário em torno de questões, projetos e ações para um fim muito específico. Não significa, nem pode significar a oposição abrir mão dos seus princípios, do dever basilar de exercer a fiscalização, a crítica e o questionamento.
Qualquer proposta fora desse princípio não é coalizão, é conchavo!


Partindo de tal premissa, segundo o senador, uma coalizão seria viável em duas situações:
A primeira, no caso do país viver uma situação tão favorável, e com perspectivas tão boas que justificasse uma coalizão em torno de pontos específicos que pudessem perpetuar essa situação de forma que não houvesse ameaças por uma decisão isolada de governo.
A segunda, no caso exatamente oposto, do país viver uma crise tão grave, e com perspectivas tão ruins, que justificasse uma coalizão em torno de pontos específicos que apontassem para a sua solução.

O presidente Lula, indiscutivelmente, é um líder. É inteligente, tem raciocínio rápido, tem carisma e, principalmente, tem uma habilidade rara: a de transformar, por meio de uma peculiar linguagem popular, situações totalmente adversas em expectativas positivas a seu favor.
Quando da sua primeira campanha, em 2002, com a perspectiva de mais uma derrota, pelo temor dos agentes econômicos frente o discurso radical anacrônico e histórico do seu partido, criou o fato político da “Carta ao Povo Brasileiro”, o que possibilitou tranqüilizar o mercado e mudar a expectativa internacional, de francamente pessimista para otimista, apesar de contrariar frontalmente o discurso de mais de vinte anos do PT, e dele próprio.
Durante o seu primeiro mandato, apoiando a sábia decisão de manter inalterada a política econômica, que vinha sendo aplicada desde o primeiro governo FHC, conseguiu transformar uma situação inusitadamente favorável proporcionada pelos ventos da economia mundial, em méritos seus e do seu governo, espertamente e sem a mínima preocupação, ou visão, em usar o seu cacife eleitoral para implantar as reformas de base que permitissem transformar o país de mero coadjuvante em um participante ativo e decisivo na competição do comércio internacional.
Tudo indica que o seu segundo mandato terá, também, ventos favoráveis, novamente na carona do crescimento mundial, pelo menos por algum tempo.
Na sua sagacidade, entretanto, o presidente já percebeu que os problemas internos podem colocar tudo a perder, já que o modelo público brasileiro esgotou-se e apodreceu.

Daí, provavelmente, a sua preocupação em dividir a responsabilidade de explicar o desempenho econômico pífio que virá no segundo mandato, exclusivamente por conta da falta de ação do seu governo, já que a famosa “herança maldita”, que serviu para justificar as agruras dos primeiros quatro anos, esgotou-se, também, como desculpa para os próximos quatro.

Assim, caso a idéia do presidente seja fazer uma simples troca entre a tranqüilidade de “governar para o social” durante mais quatro anos, mantendo o país “boiando”, a despeito de estar fazendo água por todos os lados, usando para isso um “cala a boca” na oposição oportunista, por meio da concessão de benesses políticas, cargos a aliados e seus apadrinhados, compra de apoio pela liberação de recursos para interesses paroquiais, chegará ao fim do mandato culpando, novamente, “as elites”, que espoliaram o país “pelos últimos quatro séculos”, e a oposição, por não ter contribuído para a sua “santa” tarefa de “arrumar a casa”. Apesar da pirotecnia, será lembrado como mais um “Salvador da Pátria” que falhou.
Concordo com o senador Buarque: É conchavo!

Agora, caso esteja pensando em realmente uma coalizão, fechada em torno da proposta de um esforço suprapartidário para a aprovação das reformas e projetos que coloquem o país a caminhar, definitivamente, rumo à modernidade e à competição, e isso, simplesmente, em troca do reconhecimento das próximas gerações, o presidente estará escrevendo o seu nome na exclusiva página da história dos Estadistas.


Editado por Ralph J. Hofmann   às   12/14/2006 09:05:00 AM      |