Por Reinaldo Azevedo em seu Blog Não posso ver um inocente que logo sou tomado de um frenesi iluminista. O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos repetiu, nesta terça, uma frase do presidente Lula em um debate (ou o contrário, o que é mais provável) e disse que seu chefe não pode ser contrário à liberdade de imprensa “porque é produto dela”. Onde parece haver uma contradição, meu nobre causídico, há apenas uma oposição combinada. Eu explico. Lula surgiu no cenário político no tempo em que praticamente todo o jornalismo se alinhava com a esquerda porque, afinal, se opunha à ditadura. E Lula era uma espécie de fauno encantado dos melhores sonhos esquerdistas: “Enfim, temos o nosso operário”. Os comunistas de então — houve um tempo em que a esquerda lia ao menos os livros de esquerda — não o levaram a sério porque os líderes revolucionários sempre foram intelectuais, oriundos das classes superiores. Viam no sindicalista do ABC um arrivista e oportunista. Mais tarde, a história provou que aquele juízo estava mais ou menos correto. O Apedeuta é só o chefe de uma nova classe social que chegou ao poder.
Mas volto. Ele encarnava o sonho dourado dos intelectuais brasileiros. Enfim, o líder orgânico, das massas. Veio a plena democratização, e ele continuou na oposição, sabotando todos os governos, pondo seu partido para votar sistematicamente contra o que quer que emanasse dos adversários políticos. E continuou a gozar da simpatia dos jornalistas. Com a politização do Ministério Publico, formou-se a Tríplice Aliança: imprensa-PT-MP, que ajudou, diga-se, a depor Fernando Collor. Por justos motivos. Lula é produto da imprensa livre? Não! Ele é produto da imprensa livre desde que esquerdista e petista. O que ele não suporta nela hoje em dia? Justamente a independência — ao menos de uma parte, é claro. Até quando era tratado como inimputável porque ex-pobre, ex-operário, ex-líder sindical etc, tudo ia bem. As coisas começaram a ficar pesadas quando o Babalorixá de Banânina percebeu que há um sentido para a liberdade que não coincide exatamente com o do petismo. E setores da própria imprensa, felizmente, começaram a perceber o mesmo. Não, ministro! O senhor está errado. Há, sim, hoje uma imprensa livre no Brasil. Livre, inclusive, dos preconceitos e da idiotia esquerdistas. E essa imprensa Lula não suporta. Ao contrário: acredita que ela tem de ser submetida ao “controle democrático”.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/01/2006 01:24:00 PM |
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