C.Humberto
O poder subiu à cabeça do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), diplomata que construiu uma reputação - entre colegas e na condução da política externa brasileira - marcada por atitudes covardes e hesitantes. Sua "valentia" se expressa apenas contra subordinados. Assim, embalado pela possibilidade de continuar no cargo no segundo governo Lula, ele tratou com grosseria o embaixador so Brasil em Lisboa, ex-deputado Paes de Andrade, 79, presidente de honra do PMDB, cuja história política e pessoal se confunde com a própria luta contra o autoritarismo no País. Dispensado por telefone com arrogância e desrespeito, Paes ganhou a imediata solidariedade do seu partido, especialmente do presidente do Senado, Renan Calheiros, e arranhou o cartaz do próprio chanceler no Palácio do Planalto. O PMDB deve apresentar queixa formal ao presidente Lula. Em carta, o embaixador Paes de Andrade relata a desagradável conversa telefônica em que Amorim deixou de lado, digamos, a diplomacia, e escorregou em um comportamento político rastaquera.
LEIA A CARTA DE PAES DE ANDRADE "Sinto-me no dever indeclinável de desmentir a matéria publicada pela jornalista Rosângela Bittar no jornal O Valor, no dia 24/11/2006, por ser falsa, inverídica. Não dei nenhuma declaração a qualquer líder político do Brasil e de Portugal. As informações chegadas ao jornal O Valor são, portanto, falsas. Diálogo entre Paes de Andrade e o chanceler Celso Amorim: o chanceler telefonou-me para encaminhar o pedido de agrément dirigido à chancelaria de Portugal. Diálogo grosseiro, desrespeitoso, no mesmo tom com que afastou o embaixador Roberto Abdenur, ex-secretário-geral do Itamaraty, quando esse mesmo Celso Amorim ocupava o cargo de chanceler no governo Itamar Franco. Nesta operação, a imprensa registra, não faltou o ultraje. Feito o comunicado, eu disse: "Mas não estou entendendo, ministro. Um pedido de agrément, quando o presidente Lula nem sequer me comunicou nada. Vossa Excelência sabe que, como presidente eleito em 1994 e hoje como presidente de honra do PMDB, fiquei no palanque do presidente Lula durante 13 anos. A instância da solicitação de um agrément é prerrogativa constitucional do presidente da República. Nada recebi, nenhuma instrução do presidente e, por isso, aguardo que seja oficializada a comunicação. Chanceler, não sou seu embaixador. Sou embaixador pela vontade e decisão do senhor presidente da República". No entanto, já estava oficializando junto à chancelaria portuguesa a entrega do pedido do agrément. Na mesma hora, o presidente do Senado, Renan Calheiros, me telefona e pede para que eu suste a formalização do processo porque estava convocada uma reunião pelo presidente Lula, à qual compareciam Eunicio Oliveira, José Sarney, Paes de Andrade e o próprio presidente do Senado. Nesta reunião, o presidente comunicaria a sua decisão, já que é instância terminativa e constitucional. Celso Amorim, ríspido, lacônico: "Cumpra a missão que estou lhe colocando nas mãos. O senhor está sendo substituído pelo embaixador Celso Marcos Vieira de Souza". Desligamos os telefones. Causou-me estranheza o ultimato, até porque em todas as conferências que fiz, em Portugal e no Brasil, em livros publicados, sempre citava o pensamento do chanceler Celso Amorim. Ademais, Celso Amorim continua ainda filiado ao PMDB. Foi militante do partido até nas últimas eleições. Por isso mesmo deveria tratar com respeito o presidente de honra do seu partido. O chanceler Celso Amorim, açodado, não espera a decisão do presidente da República, passa por cima do embaixador Paes de Andrade, que ainda está no posto, e recorre à chancelaria portuguesa, solicitando a concessão do agrément. Nada mais violento e desrespeitoso do que, nestas circunstâncias, recorrer ao ato extremo. Aguardo que o jornal O Valor, sempre ético, acolha o desmentido que apresento, por não aceitar as inverdades e por ser imperativo o restabelecimento dos fatos ocorridos. Atenciosamente,
Antonio Paes de Andrade Embaixador
Editado por Anônimo às 11/29/2006 06:10:00 AM |
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