Editorial no Jornal da Tarde
Durante a campanha eleitoral, período em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva freqüentou com assiduidade seu ambiente favorito, que não é o gabinete de trabalho, mas o palanque, Sua Excelência dedicou-se com empenho e talento a sua tarefa preferida, a caça ao voto. Isso não combinava com o lema getulista que seu novo marqueteiro, João Santana, vulgo Patinhas, havia adotado - 'deixem o homem trabalhar' -, mas o eleitor nem ligou e lhe propiciou a volta ao mesmo gabinete do Palácio do Planalto por mais 4 anos. A estratégia resultou numa vantagem de 20 milhões de votos sobre seu oponente tucano, mas tudo indica que, de tanto se saber presidente eleito (ou melhor reeleito), ele se tinha esquecido de que já é de fato o chefe do governo e precisa, como tal, governar.
Há 4 anos, no topo do mais civilizado processo de transição de nossa História republicana, o petista se deu ao luxo de entregar a coordenação da composição de sua equipe ao pau-para-toda-obra José Dirceu, nomeado chefe da Casa Civil. Com o comissário fora de combate por se ter metido em camisa de onze varas num escândalo de corrupção, o presidente em exercício resolveu tirar uma folga, primeiro para descansar da campanha. E, enquanto seus subordinados administravam o caos nos aeroportos por causa da crise com os controladores de vôo, ele foi veranear numa praia exclusiva, onde a primeira-dama, Marisa Letícia, estreou maiô com uma imensa estrela vermelha na barriga. Depois, de volta à rotina, em vez de cuidar dos assuntos administrativos, que nunca lhe apeteceram, ele passou a se dedicar à composição da reforma ministerial para a segunda gestão. A questão é que, mesmo sem dispor de Dirceu para cuidar disso, o primeiro governo não acabou e o País não pode parar a pretexto de esperar o segundo começar. Não há transição de poder a ser feita e, como ficou claro que o País terá 'mais do mesmo' a partir de 1º de janeiro, o presidente poderia experimentar governar um pouco até a posse antes que o implacável humor nacional mude seu slogan de palanque para 'deixem o homem vadiar'. 'Hora de trabalhar? Pernas pro ar que ninguém é de ferro' fica bonito no verso de Ascenso Ferreira, seu conterrâneo de Pernambuco. Não como diretriz de governo.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/10/2006 09:05:00 AM |
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