Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
PT entrou valente, mas saiu obediente do encontro com o presidente Lula A comissão de petistas - o estressado Marco Aurélio Garcia à frente - que esteve com o presidente Luiz Inácio da Silva na quinta-feira pediu reuniões mensais com Lula. Ele concordou, mas passou a missão ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, por dever de ofício um interlocutor freqüente e acessível aos partidos em geral e ao PT em particular. O primeiro ato oficial do presidente como articulador político e organizador de suas bases partidárias foi, por essas e outras, inconsistente. Levou o PT na conversa, falando o tempo todo sobre suas pretensões de imprimir 'ousadia' ao governo, e não deu espaço para a abordagem de nenhum assunto problemático: formação do ministério, presidências e lideranças do governo na Câmara e no Senado.
Noves fora, o resultado foi nulo, serviu apenas para o PT coadjuvar a cena de proximidade e tomar ciência de que partido no poder é isso mesmo: deve obediência, silêncio e reverência. Aquele partido vivo, não raro cheio de equívocos sobre os exercícios da política, está reduzido à insignificância reservada aos partidos no poder. Foi assim com o PSDB, na gestão Fernando Henrique, continuará sendo assim com o PT nos próximos quatro anos. A menos que o tenham feito em regime de sigilo absoluto, o presidente e seus correligionários não trataram de nenhum tema relevante ou delicado. Não falaram do futuro, do passado nem do presente. Reuniram-se social e publicitariamente apenas para dizer que se encontraram. O próprio desenho da comissão escolhida para ir a Lula esteve nos conformes da inutilidade: a burocracia do aparelho, dois deputados sem maior expressão e dois titulares de cargos de comando - o presidente Marco Aurélio e o secretário-geral Luiz Dulci - hierarquicamente subordinados a Lula na estrutura do governo. Nenhuma das aflições que assolam o PT poderia ser resolvida nesse fórum. Até a promessa de 'mudar a relação' com o partido foi vaga. Lula prometeu 'diálogo aberto', mas, pelo visto e ouvido depois da reunião, essa abertura tem limites estreitos e dimensões difusas. Provas foram os relatos ocos sobre a reunião. A líder no Senado, Ideli Salvatti, revelou que Lula talvez tome posse com os ministros atuais. E daí? Pode ser verdade ou não, tanto faz. O presidente do partido, Marco Aurélio, em meio à irritabilidade que vem notabilizando suas atuações públicas, tentou explicar melhor a situação do PT face ao segundo mandato: 'O tamanho da participação no governo não é um tamanho que se possa medir com fita métrica, não se pode medir com aritmética vulgar. Mede-se concretamente pela presença de posições políticas essenciais de um determinado partido ou de um conjunto de partidos.' Deu para entender o que o PT foi fazer no gabinete presidencial? Pois é.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/18/2006 03:30:00 AM |
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