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LACERDA E BRIZOLA, DOIS DESTINOS
Por Pedro do Coutto na Tribuna da Imprensa
No seu artigo de sexta-feira, 27, nesta TRIBUNA DA IMPRENSA, Helio Fernandes relembrou a trajetória política de Carlos Lacerda e Leonel Brizola, lamentando que ambos, por circunstâncias do destino - este eterno enigma -, não terem chegado à presidência da República. Governadores da Guanabara e do Rio Grande do Sul, aproximaram-se do poder, mas não conseguiram alcançá-lo. Tiveram quase todas as condições para isso. Lacerda, jornalista excepcional, fundador da TI, governou a GB de 60 a 65. Brizola governou o Rio Grande do Sul de 58 a 62. Foram adverário terríveis.
Brizola governou também o Rio de Janeiro, por duas vezes: de 82 a 86; de 90 a 94. HF comparou os políticos de ontem no Brasil com os de hoje: que diferença. Brizola e Lacerda - digo eu - venceram muitas batalhas e inúmeros adversários. Não conseguiram, porém, derrotar a si mesmos. Vamos dizer por quê. Antes, entretanto, por falar em destino, e talvez dele ninguém escape, vou lembrar que o senador Adlai Stevenson, um intelectual, um homem fora do comum, não conseguiu chegar à presidência dos Estados Unidos.
Em 52, depois de cico mandatos consecutivos do Partido Democrata, Roosevelt quatro vezes, Harry Truman uma vez, Stevenson perdeu para Eisenhower. Quatro anos depois, em 56, embora tenha colocado fim à guerra da Coréia, durante a qual 60 mil americanos perderam a vida, Eisenhower estava com a popularidade ruim. O Partido Democrata escolheu novamente Adlai Stevenson para enfrentá-lo. Stevenson estava disparado nas pesquisas. Mas quinze dias antes das eleições de novembro, em ação conjunta, Inglaterra, França e Israel invadem o Egito.
Násser, presidente do país, ameaça dinamitar o Canal de Suez, então a principal rota de petróleo no mundo. Perplexidade geral. O presidente Eisenhower condena a invasão. Dois dias depois, aproveitando-se da contradição aberta no lado ocidental, a União Soviética, então governada por Kruschev, invade a Hungria. Depõe pela força o governo Janos Kadar. O cardeal Midzenty, primaz do país, vê-se obrigado a se asilar na Embaixada dos Estados Unidos. O confronto militar entre as duas grandes potências tornou-se iminente.
O universo podia ir pelos ares. O eleitorado americano, então, diante da gravíssima emergência, preferiu reconduzir Eisenhower à Casa Branca, com base em sua extraordinária experiência de chefe militar, que inclusive, em 44, havia comandado a invasão da Normandia pelas forças aliadas para libertar a França do nazismo. Pela segunda vez, Stevenson foi derrotado. Que fazer contra o destino?
Quanto a Lacerda e Brizola, eu disse há pouco que não conseguiram vencer a si próprios. Foi exatamente isso. Carlos Lacerda, em 65, havia sido homogado candidato à presidência da República pela convenção da UDN, realizada em Niterói. Empenhou-se pela candidatura do professor Flexa Ribeiro, excelente homem público, para sucedê-lo no governo.
Perdeu para Negrão de Lima. Que faz Lacerda, que era um gênio? Investe contra o governo Castelo Branco e contra a posse de Negrão.
Abala seriamente o general-presidente, desencadeando forte crise político-militar. O que acontece? Ministro do Exército, Costa e Silva garante Castelo no Planalto, mas ao preço de acabar com as eleições diretas e da aceitação de sua candidatura indireta. O sonho da vida de Lacerda evapora-se. Tivesse absorvido a derrota para Negrão de Lima, não teria havido a crise que o destruiu.
Relativamente a Brizola, depois de sua atuação épica no episódio que culminou com a posse de João Goulart na presidência do País, decidiu, aos 42 anos, ser candidato ao Palácio do Planalto. Mas era cunhado de Jango, portanto inelegível. Lançou-se à luta para mudar a Constituição. Instituiu o Grupo dos 11, de conotação paramilitar. Em 63, rejeitou o oferecimento de Juscelino Kubitschek para ser o vice de sua chapa.
Se tivesse aceito, não haveria 64. Perdeu a primeira oportunidade, ainda bem jovem. Depois de quinze anos de exílio, e de asilo, como lembrou Helio Fernandes, venceu as eleições de 82 para o governo do RJ. Assumiu em janeiro de 83. Não quis renunciar em 86 para ser eleito deputado federal. Não deu importância a São Paulo, como assinalou HF.
Em 99, concorreu à presidência da República, com o sistema de dois turnos implantado pela primeira vez. No primeiro (turno), Fernando Collor obteve 29 por cento dos votos. Luís Inácio da Silva 16 e ele, Brizola, 15 pontos. Por um ponto, perdeu a possibilidade de disputar a final com Fernando Collor. Tivesse sido eleito deputado e dado atenção a São Paulo, teria superado Lula, sem dúvida. Foi a segunda oportunidade que perdeu.
Esta tornou-se irrecuperável. Combateu, no início do processo, o impeachment de Collor. Foi aí que o PDT perdeu as ruas para o PT. E Brizola perdeu a perspectiva histórica definitivamente. Candidatou-se de novo à presidência em 94. Alcançou apenas 3 por cento dos votos. Em cinco anos, portanto, perdeu 80 por cento de sua votação. Em 89, teve somente 1,4 por cento dos votos paulistas e 5 por cento dos votos mineiros. Em 94, em São Paulo, ficou com 0,5 por cento.
A história se escreve em todos os momentos. Às vezes a oportunidade vem. Mas, não aproveitada, em seguida, desaparece. Os sonhos o vento leva. Como levou para sempre os de Carlos Lacerda e Leonel Brizola. Poderiam ter sido presidentes: não foram.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/31/2006 02:03:00 AM      |