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ESCÂNDALOS MARCAM GESTÃO LULA DESDE 2004
Por Marcelo de Moraes
Caso Waldomiro, máfia dos vampiros, mensalão, violação do sigilo do caseiro e dossiê Vedoin compõem o pacote que abalou o governo do PT
Nunca uma reta final eleitoral dividiu tanto as atenções com escândalos políticos como a atual corrida pelo Palácio do Planalto. Mais do que a pressão dos adversários, a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição foi atingida por uma desastrada operação criada por seus próprios aliados. Lula passou as duas últimas semanas tentando neutralizar os efeitos negativos provocados pela descoberta do chamado dossiê Vedoin, uma negociação montada por integrantes do PT para comprometer políticos do PSDB com o esquema da máfia das ambulâncias, comandada pelos empresário Luiz Antônio e Darci Vedoin.
Pelas pesquisas de intenção de voto, entretanto, Lula ainda tem conseguido resistir ao impacto das denúncias. Desde a descoberta do dossiê Vedoin, Lula teve apenas ligeiras oscilações para baixo e seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, não conseguiu, até agora, crescer suficientemente para poder levar a eleição para o segundo turno. Mas o aparecimento das fotos do dinheiro que seria usado para comprar o material pode afetar negativamente a campanha de Lula.
Não é a primeira vez que o presidente tem de lidar com escândalos. Desde 2004, seu governo foi afetado por problemas desse tipo, sem que a popularidade do presidente fosse arranhada significativamente. Apesar de todo o constrangimento provocado, politicamente Lula resistiu ao caso Waldomiro, à máfia dos vampiros na Saúde, ao escândalo do mensalão, à quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, à máfia dos sanguessugas e, agora, ao dossiê Vedoin.
O poder eleitoral de Lula tem suportado até mesmo a queda de vários dos seus principais auxiliares e amigos, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cassado pela Câmara sob acusação de comandar politicamente o esquema do mensalão. Foi o caso também do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, que ordenou a quebra do sigilo bancário de Nildo.
Agora, as acusações contra os governistas chegaram mais perto ainda do presidente, com o envolvimento, no dossiê Vedoin, do assessor da Presidência Freud Godoy, uma espécie de faz tudo de Lula, e até mesmo de Jorge Lorenzetti, responsável por fazer os churrascos do presidente. Derrubaram ainda o coordenador de sua campanha, Ricardo Berzoini, presidente do PT.
A sucessão de escândalos contra o governo do PT começou em 2004, ironicamente, num 13 de fevereiro, aniversário de fundação do partido. Gravações em vídeo mostravam o subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, cobrando propina do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A descoberta provocou um pedido de abertura de CPI pela oposição, derrubado graças à ação política do governo.
A revelação da atuação da máfia dos vampiros no Ministério da Saúde, em maio de 2004, também causou grande mal-estar entre os petistas. Junto com o caso Waldomiro, acabou provocando repercussão eleitoral, atrapalhando algumas candidaturas importantes na votação municipal de 2004. O então ministro da Saúde, Humberto Costa, sofreu fortes críticas por conta do escândalo, mas se manteve no cargo, substituído apenas na reforma ministerial de 2005 para dar uma vaga ao PMDB.
A pior crise do governo Lula foi a descoberta do esquema do mensalão, em 2005. Teve proporções devastadoras, derrubando ministros, como José Dirceu, atingindo presidentes e líderes do PT e dos partidos aliados e desmontando a base de sustentação do governo dentro da Câmara, depois que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) entregou o esquema de pagamento de propinas em troca de apoio político. Revelou ainda a existência do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que funcionava como principal caixa abastecedor desses pagamentos. Em troca, Valério receberia repasses de empresas estatais, via contratos de publicidades com suas empresas.
Mais: a relação com Valério se estendeu até o comando do PT, que usou o empresário para pagar as despesas de campanha do partido, num esquema de caixa dois. Toda a cúpula do PT caiu e o partido mergulhou numa crise sem precedentes.
Lula alegou que não sabia de nada e que foi traído por seus aliados, enfrentando aí seu pior momento de popularidade. Mas recuperou a imagem com o sucesso da distribuição de renda entre as camadas mais pobres promovida pelo programa Bolsa Família.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/01/2006 08:32:00 AM      |