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A CADEIRA VAZIA E UMA PILHA DE NOTAS QUE PODEM DECIDIR UM SEGUNDO TEMPO
Por Fátima Pacheco Jordão em o Estado de São Paulo
Há três semanas atrás, uma vitória de Lula no primeiro turno, ainda que com pequena margem de votos, seria a consagração de quatro anos de um governo percebido como bem-sucedido, com ações eficazes para os segmentos de baixa renda, desde controle da inflação,passando por aumento de rendimento para os trabalhadores de menor renda, até políticas compensatórias bem administradas.
Isso sem contar a simpatia ostensiva de parte das elites ligadas ao setor financeiro.
Os deslizes ou delinqüências associados ao governo Lula ou a membros próximos de sua equipe, perpetrados já faz muitos meses, desde o episódio do mensalão, poderiam ficar ofuscados pelas luzes da eventual vitória e por esperanças de novos tempos. Com o suporte de velhas novas alianças.
Ocorre que hoje, mesmo que se dê uma vitória em primeiro turno, ela não acalmará as ondas das águas agitadas da política, enfurecidas pelo dossiê camicase contra os candidatos tucanos e pelas trapalhadas que se seguiram. Os eleitores assistiram aparvalhados a um jogo de esconde-esconde de evidências e um ritual de degola-relâmpago de assessores, funcionários de altos cargos e companheiros de campanha.
Uma seqüência de erros inesperados, desconcertantes e de impacto significativo no eleitorado, de tal forma que prognósticos de pesquisas de ontem poderão ser revirados até o minuto final, na beira do teclado da urna eletrônica.
Já está ocorrendo uma reversão de expectativas em parcela do eleitorado de Lula, que a pesquisa Ibope detectou. Finalizada ontem, a margem entre os votos de Lula e a soma de outros candidatos caiu a ponto de apontar um empate técnico - 51% do petista contra 49% da soma dos adversários, considerados os votos válidos. Efeito em grande medida da ausência de Lula no debate e da divulgação das pilhas de notas apanhadas com petistas aloprados, segundo adjetivação do próprio presidente-candidato.
Nesta fila de desacertos, o mais relevante contra Lula foi a sua ausência no debate. Justamente o componente de comunicação mais
valorizado pelo eleitor e cujos efeitos se desdobram pelos dias seguintes. Até a urna.
Na visão dos eleitores menos firmes de Lula, aqueles que podem mudar o voto (cerca de 20% ainda), a ausência do candidato no debate pode tê-lo implicado fortemente, de maneira antes não configurada, com o dossiê Vedoin. Um dia depois, a exibição das fotos de pilhas de dinheiro certamente potencializou a percepção de conivência de Lula.
Pela seqüência dos indicadores de pesquisa, pela nova dinâmica desta campanha, cresceu, de fato, a probabilidade de segundo turno. Ou está muito mais perto do que parecia. O eleitor ganhou por esperar e acompanhar atentamente, lance a lance, o desenrolar do jogo. Hoje o campo está mais bem iluminado. Pronto para um segundo tempo que não será uma nova eleição, e sim a continuação das atuais tendências e dilemas.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/01/2006 08:37:00 AM      |