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OS VELHOS FARROUPILHAS
OS VELHOS FARROUPILHAS

Ralph J. Hofmann – 20 de setembro, 2006

"Como a aurora precursora
do farol, da liberdade.
Foi o vinte, de setembro,
o precursor da liberdade"
(Hino Riograndense)


Hoje tenhamos respeito. É 20 de setembro o dia da Revolução Farroupilha (1835-45), em que também se cultua a memória de Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi que lutaram contra o Império brasileiro.

Em todo o Rio Grande do Sul, onde houver gaúchos ou gaúchos adotivos, onde houver Centros de Tradições Gaúchas, inclusive Nova Iorque ou no Japão há piquetes de cavalaria acampados lembrando aqueles dez anos de república, que deram uma identidade forte e diferenciada a esse povo.

No Parque da Harmonia em Porto Alegre, à margem do Rio Guaíba há piquetes de cavalaria. às vezes consistindo de famílias inteiras, inclusive crianças de colo que cada ano, sendo ainda inverno, se deslocam para lá, e vivem uma semana sob tetos de lona.
Em muitos casos são gaúchos de ascendência alemã, italiana, judeus da Ucrânia e Polônia e libaneses. Os primeiros alemães chegados por volta de 1845, os italianos em 1885. Os demais povos após 1900. Enfim após o fim da Revolução Farroupilha. Mas é uma cultura tão forte que inspira a adesão dos mesmos, faz com que abracem essas tradições.

É um estado de espírito que é carregado mundo afora. Imagine-se “decasseguis” gaúchos no Japão reunidos em torno de um fogo de chão, sorvendo mate e assando bife de Kobe no espeto, a US$ 100,00 o quilo em algum piquete japonês.

Dito isto, o que cabe agora é parafrasear Kipling. “If”, “Se”. E se a “República Farroupilha” e a “República Juliana”, de Santa Catarina tivessem vingado? Seria um república vizinha ao Brasil. Teria 181 anos de tradição republicana. Teria sido forjada em combates pela liberdade e não por um grito teatral de um Príncipe europeu. Havia entre os Farrapos líderes que além de homens de ação eram cultos, e que haviam forjado suas fortunas e implantado suas cidades como legítimos pioneiros, colaborando em suas milícias para garantir sua sobrevivência contra castelhanos e índios, não vivendo de sinecuras e expedientes de cortesão e funcionários públicos indicados segundo benesses dos favoritos do Imperador.

A liberdade tem maior valor se conquistada. Liberdade cedida como um regalo qualquer, sem esforço e engajamento, sem luta e criatividade parece ter o efeito de atrasar uma sociedade.

Brasil Império nasceu sem parto e passou a Brasil República sem grandes traumas, gerido pelos mesmos homens numa linha direta de ungidos do Rei D. João VI a Pedro II, passando às mão de sucessores que perpetuaram uma tradição de sinecuras, mesmo após a república.

Por inteligentes que fossem, antes de tudo eram peritos em apaziguar as partes contrárias jogando óbolos aos seus opositores. Não é de surpreender que discursos de Ruy Barbosa fossem atuais em 1964 e ainda sejam aplicáveis hoje. Os hábitos do império estão entranhados até nossos dias na maneira de gerir o país, que sejam conhecidos por sinecuras, quer sejam mensalões.

(Sinecura = Emprego rendoso de pouco ou nenhum trabalho. Emprego cujas funções não se exercem.)







Editado por Ralph J. Hofmann   às   9/19/2006 10:30:00 PM      |