Por Adriana Vandoni Nessa confusão toda de Operação isso, Operação aquilo, homens presos com dólares na cueca, aviões com malas de dinheiro para pagamento de boca-de-urna (que é ilegal) pousando nos aeroportos na calada da noite às vésperas das eleições, ATPFs (autorização para transporte de produtos florestais) sendo vendidas em praças e desviadas para campanhas políticas, deputados cobrando propinas sobre vendas de ambulâncias e ainda tirando proveito eleitoral na entrega delas como se estivessem fazendo uma caridade para a população. Estamos fartos de tanto descaramento, de tanta sem-vergonhice, dá até vontade de vomitar. São tantos escândalos e operações e prisões, com hábeas corpus, mas prisões, que resolvi tentar ajudar nessas horas difíceis. Tempo atrás escrevi um manual de boas maneiras para a hora da prisão. Era tanta gente indo presa que era preciso estabelecer algumas regras, um manual de conduta. Coisinhas básicas, simples, como: “qual a melhor forma de ser algemado(a), com os braços pra trás ou pra frente?”; “como entrar em um camburão, de frente ou de costas?” e por ai vai. Nas minhas consultas a uns observadores e alguns experts no assunto, o que ficou claro é que as mulheres ficam em desvantagem em função da moda. Se ao entrar no camburão fazem isso de frente, com calças de cintura baixa, fatalmente deixam à mostra suas calcinhas. Algumas relataram esse desconforto. Um absurdo! Se, por outro lado, a algema é colocada com as mãos para trás, dá até para puxar a calça pra cima, mas, se ela estiver usando uma camisete, vai aparecer sua barriguinha. Como ninguém sabe a hora que será preso(a), o jeito é encomendar um novo desenho de camburões. Por isso estou lançando um concurso para a criação de um novo designer para camburões. Quem sabe não revolucionaremos todo sistema à partir de camburões mais modernos, confortáveis e humanos? Vamos humanizar os camburões. Isso é de interesse público, como escutei de um dos entrevistados: “antigamente nós tínhamos uma certeza: o ser humano nasce, cresce e morre. Hoje é diferente: o ser humano nasce, cresce, vai preso e morre”. Tô fora! Mas, falando sério, a fisionomia de alguém ao ser preso é sempre a mesma. A pessoa se abate, sente-se constrangida e envergonhada, isso independente de ser uma pessoa inocente ou culpada. Até aqueles ladrões que aparecem nos programas dos Ratinhos da vida, aqueles que são pegos roubando R$ 5, todos ficam constrangidos. Olhar pra baixo, abatidos. Foi isso que me impressionou na funcionária do Ministério da Saúde envolvida na Operação Sanguessuga, e que recebeu habeas corpus esta semana. Maria da Penha Lino sempre apareceu nas fotos e nas filmagens com um sorriso estampado no rosto. Seu olhar era desafiador e triunfal, as algemas pareciam não pesar, pelo contrário, ela agia como se aquilo no seu pulso fosse uma jóia, um troféu por serviços prestados. Essa reação me chocou e acredito que tenha chocado muita gente. Levantei duas hipóteses na tentativa de entender o comportamento dela. Uma, é a certeza de que a sua prisão representa um risco muito maior a alguém que ainda está solto e aquela postura seria um recado a esse alguém. A outra, é a possibilidade de que ela estivesse se sentindo livre das pressões que vinha recebendo de políticos e de empresários que fazem parte desse esquema. Em qualquer das hipóteses o comportamento da funcionária do Ministério da Saúde é estranho, intrigante e sinistro. Comentei sobre a Penha com uma artesã de bijuterias que me disse estar lançando uma linha de algemas especiais. Terá até algemas cravejadas de pedras preciosas e para Copa, já tem umas cheias de bandeirinhas do Brasil. Não é perfeito? Mostrar ao povo que, apesar de estar surrupiando o que não lhe pertence, é patriota e ama nosso país. Contei sobre essas algemas de grife a uma amiga e ela ficou entusiasmada demais. Hummm! Essa minha amiga é do interior, vivia da agricultura e foi falida pela bela porcaria da política agrícola brasileira. Ao tomar conhecimento das algemas de grife ela falou: - Eu quero encomendar uma. Sabe Adriana, nunca trabalhei com verbas públicas, nunca desviei dinheiro público, nunca tive dívida na vida que não pagasse e de uns meses pra cá, só faço atender telefonemas de cobradores. Sinto-me como se fosse uma delinqüente. Mas, disse-me ela, encontrei uma forma de resolver tudo isso. Quando atendo aos telefonemas de cobrança digo: “meu senhor, por favor, ligue para (061) 33XX-1700 e procure pelo Paulo que ele vai pagar.” Ele é um “grande” amigo que conheci recentemente em um encontro de pequenas empresas aqui em Cuiabá. - E quem é esse Paulo?, perguntei. - Todos perguntam isso. É o Okamoto. Paulo Okamoto. Pagou as contas de Lula sem nem avisar a ele, só por ser seu amigo, eu, que não sou boba, aproveitei e fiquei amiga dele também. Vai ter que pagar as minhas contas. Okamoto é um cara fantástico. Um $enhor amigo! Bem, mas para quem não tem um Okamoto como amigo, ou está desviando dinheiro público, ai vai um conselho: mesmo que seja um(a) sem-vergonha, finja, interprete, faça cara de espanto, surpresa e constrangimento. Fazer cara de arrogância, prepotência e superioridade, não pega bem.
Editado por Adriana às 6/23/2006 09:08:00 AM |
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