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MÍDIA SEM MÁSCARA ENTREVISTA IPOJUCA PONTES - FINAL
Por Redação MSM (Mídia Sem Máscara)

MSM - Uma rápida pesquisa histórica pode esclarecer qualquer estudante que o comunismo e o socialismo são duas das mais assassinas idéias já criadas pelo homem. Contudo, cresce entre os jovens a ilusão de que heróis imaginários como Che Guevara possam ser tomados como exemplo de luta pela liberdade e igualdade. O senhor acha que livros como o seu podem ajudar a esclarecer os desavisados quanto aos perigos que representa a esquerda no poder?
I. P. - O apelo da mitologia socialista é muito forte. Quem não pretende, uma vez estudante, criar um mundo igual e justo? Junte-se o apelo mitológico com a lavagem cerebral sistêmica feita nos colégios e universidades, geralmente conduzida por esquerdistas religiosos e o permanente endeusamento em filmes, peças, livros, revistas e jornais de figuras assassinas ou deletérias como Marx, Lênin, Fidel ou Guevara e não fica difícil perceber por que o socialismo, entre os jovens, torna-se uma espécie de senso comum, um cacoete ou mesmo um vício para justificar a preguiça, a impotência e a malandragem.
Mais tarde, salvo exceção, essa gente pouco ligará para liberdade ou igualdade. Ela só pensará num bom emprego público. E uma vez na boca estatal só pensará em mordomias, privilégios e isonomias salariais, enquanto a “cabroeira enfrenta a tribuzana velha braba”, no dizer do tabaréu de Euclides da Cunha. De fato, o apelo socialista ou comunista só é repudiado justamente nos países que são ou foram impositivamente governados pela “canaille gauche”. Mas já aí a coisa fica complicada, pois o poder nos regimes totalitários é exercido pela força e contrária aos apelos de liberdade e de igualdade. É fatal!
Claro que “A Era Lula - Crônica de um desastre anunciado” ajuda a compreender a questão. O problema é que o livro vem sendo boicotado pela mídia hoje, no Brasil, genericamente esquerdista. Nem o lançamento do livro, em plena batalha eleitoral, foi noticiado. Sua divulgação está sendo feita nos sites da Internet e a partir do boca-a-boca dos que o lêem.
MSM - Seu livro [*] é dividido em 5 partes distintas. Uma delas dedica especial espaço ao “personagem Lula”, que o senhor chama de “egocrata”. Como o senhor vê o presidente enquanto figura histórica? Terá entrado como sindicalista e sairá como ditador apoiado por uma imensa burocracia partidária?
I. P. - Desde cedo, um rebento da igreja apóstata e do universo acadêmico marxista, para não falar do apoio direto que recebeu da esquerda armada, Lula foi “construído” para ser o que é: um futuro mandatário 100% inconstitucional e, se quiserem, um ditador populista. Ele reunia as “condições objetivas” para tanto: tinha physique de rôle, obstinação, ignorância e muito atrevimento. Tudo passou a ser uma questão de tempo.
De fato, tal como Fidel, Morales e Chávez, Lula tornou-se um egocrata, um sujeito instintivo e egoísta que se julga acima das instituições. E, o caso curioso: a esquerda ideológica nutrida no marxismo “científico” vai convivendo muito bem com isso. Recentemente, um renhido membro da fauna, o “cientista político” Chico de Oliveira, um dos mais violentos opositores de Lula, afirmou, antes das eleições, que votaria no presidente que julgava um traidor.
Uma evidência do egocratismo de Lula, o arauto do “eu sou mais eu”, é quando ele próprio se enxerga como “o sujeito mais honesto do mundo”, e que “está pronto para debater com qualquer membro da oposição isso e aquilo outro”, ou que é “um predestinado”. Pelo amor Deus, é muita cara de pau! Dizem que Lula mantém em torno de si uma legião de puxa-sacos, fazendo-o crer que “é o maior”. Uma pessoa decente, com um mínimo de autocrítica, não aceita o puxa-saquismo diuturno. Se um sujeito diz a todo instante: “Fulano você é o maior!”, o honesto é o sujeito responder: “Olhe aqui, amigo, vamos devagar. Se você não acabar com isso não quero mais conversa com você!”.
Mas a questão moral é irrelevante para o comunista. Para Marx, por exemplo, a moralidade era um derivativo, uma armação das classes dominantes.
MSM - Uma boa parte do livro parece prenunciar o que temos visto em larga escala na atual era Lula: confusão entre partido e governo, metodologia stalinista, tentativa de cerceamento da liberdade de expressão. Por que o senhor acha que a maior parte de nossas elites intelectuais e empresarias (aquelas não comprometidas com o ideário esquerdista e revolucionário) tem demorado tanto para perceber o óbvio?
I. P. - Em primeiro lugar, no caso dos intelectuais não-comunistas, por medo ou pelo que Georg Lukács, filósofo stalinista, chamava de “consciência oposicionista”. O intelectual (ou o sub-intelectual, não importa), é um ser a serviço do ceticismo e que julga do seu dever desconfiar do poder dominante que ele pensa, ainda hoje, ser o capitalismo. Para ele, fica feio o sujeito afirmar que quem visa só lucro é mais necessário do que quem espolia o trabalho da massa em nome da justiça social. Não pega bem e gera antagonismos de toda natureza. O sujeito, na sua área, termina perdendo amigos, emprego, respeito e tudo mais.
Já no caso dos empresários, eles permanecem alheios por cegueira ou falsa malandragem. Eles acham que pegando a grana barata ou de graça do BNDES ou do Banco do Brasil, e criando superávit para os cofres do governo, está garantido. Ninguém vai tocar nos seus privilégios. É uma gente que só conhece a história por ouvir dizer e acha que pode, na hora do pega pra capar, contar com o apoio do socialista amigo que durante anos financiou ou manteve.
E há o caso perdido do intelectual fanático que sabe da safadeza, ou pelo menos desconfia, conforme o exemplo do citado sociólogo Chico de Oliveira, - o sujeito que passou quatro anos dizendo que Lula fazia o jogo do neoliberalismo, que era um traidor, etc, etc. – e depois foi angariar votos para Lula. O que é isso? Resposta: fanatismo. (Sem deixar também de ter um tanto de malandragem, pois essa gente vive amparada na grana dos cofres públicos).
MSM - O último capítulo de “A Era Lula” é dedicado à análise da produção cultural nestes tempos de petistas no poder. O senhor acha possível, hoje, se pensar em produção cinematográfica no Brasil sem dinheiro estatal e esse excesso de regulamentação existente? O senhor acha que as televisões devem ser obrigadas a dar dinheiro para a produção de filmes brasileiros, por exemplo?
I. P. - Nos anos 80, me dediquei à leitura abundante do marxismo e da revolução russa de 1917. Foi aí que me dei conta da figura de Djanov, o camarada que inoculou o vírus do pensamento e da prática comunista na vida cultural e artística do mundo ocidental. Djanov, o “segundo” de Stalin, foi o criador do “realismo socialista” e das regras do aparelhamento cultural do Estado, no plano interno, e do “Relatório de Setembro”, documento estratégico que ensejava um decálogo a ser religiosamente cumprido pelas células dos PCs em todo o mundo e que estabeleceu no campo cultural a guerra fria ainda hoje reinante contra os Estados Unidos. É impossível você saber o que se passa na política cultural do governo Lula se não conhece o “Relatório de Setembro” e os postulados de Djanov. É por isso que dedico no livro um ensaio extenso sobre o assunto no capítulo “A arte & manha na Era Lula”.
Os ensinamentos de Djanov foram incorporados nas AL e no Brasil pelos esquerdistas que atuavam, dentro e fora do aparelho estatal, na vida editorial, nos colégios, nas universidades, nas artes plásticas, na música, no teatro e, em especial, no cinema, considerado por Lênin, para fins de propaganda, como “a mais importante das artes” – uma coisa estúpida, evidentemente. O controle ideológico da produção artística no Brasil de hoje é um fato. O pensamento único das esquerdas, em que pese se falar muito em diversidade e pluralismo cultural, tornou-se “hegemônico”, tomando conta do noticiário e dos programas televisivos, da vida editorial, em suma, da produção maciça dos “produtos” e das “ferramentas” culturais. Resultado: nunca o pensamento brasileiro foi tão chapado e indigente, em que pese o regime racista das “cotas” e as somas bilionárias investidas na “desconstrução” e “reconstrução” da identidade nacional.
O caso do cinema é mais patético, porque o dinheiro que circula para a sua produção, muito elevado, é arrancado diretamente do estomago das massas deserdadas. A patifaria chegou a tal ponto que tornou-se impossível, pelo menos em tempo hábil, desarticular a “trampa” macabra, pois há hoje um vasto exército corporativo sempre exigindo mais dinheiro e privilégios para a derrama numa área 100% insolvente e de escassa introjeção psicossocial. O governo “hegemônico” gosta, pois é mais uma área do pensamento que fica na sua dependência. Querem um exemplo? Recentemente, antes de ser expulso da vida parlamentar, Zé Dirceu reuniu-se com a corporação do cinema que estava atrás de mais grana. O amigo de Castro não teve dúvida e foi direto na proposição de um cinema ainda mais “hegemônico”: “Organizem-se e cheguem a nós”.
No caso da televisão, vale dizer: se ela abrir as portas para o cinema “chato-ideológico”, como quer a corporação, vai perder a audiência e a importância social (sem falar que os Marinhos se transformarão, afinal, em proletários).
MSM - Por que o senhor acha que os artistas brasileiros, especialmente no teatro, preferem voltar suas críticas para questões de política internacional, como a Guerra do Iraque, do que tentar fazer um retrato da crise política vivida aqui dentro por nós mesmos? Como o senhor vê as declarações do diretor de teatro José Celso Martinez Correa que alega que seríamos “nós”, da “classe média”, os reais responsáveis pela crise moral pela qual passa o país?
I. P. - O próprio Zé Celso, que Nelson Rodrigues apelidou de “o falso louco” (doido por dinheiro, sem rasgá-lo), explica a notória inconsistência moral dessa gente. Zé Celso vivia apanhando dinheiro do “imoral” Maluf e pregava uma revolução dos costumes amparado nas verbas públicas sacadas do bolso da classe média que ele acusava (e acusa). Há anos, sempre industrializando a irracionalidade preconcebida, “o falso louco” virou parasita em cima de Euclides da Cunha, sem a menor cerimônia e de modo inteiramente irresponsável. Zé Celso é um tipo ignorante, não sabe de nada nem da vida nacional nem muito menos da política internacional (como boa parte dos artistas tupiniquins, de resto), limitando-se a destilar o jargão vanguardeiro do métier para fins de mistificação e engodo. É bem uma figura demonstrativa e adequada para a exploração dos cadernos do showbizz. Que bem o merece!
MSM - Para finalizar: o senhor vê qual papel para o povo brasileiro no panorama mundial que está se desenhando, com o retorno de tantos esquerdistas ao poder, o terrorismo islâmico e uma crescente demonização do capitalismo ocidental? Seremos protagonistas, coadjuvantes ou meros figurantes?
I.P. - O papel de burro de carga ou de massa de manobra. Só.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/13/2006 03:24:00 AM      |