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LULA POUSA NO PÁTIO DOS HORRORES
Por Augusto Nunes no Jornal do Brasil
"Lula é ruim de debate. Como informa o livro do jornalista Ricardo Kotscho, o próprio candidato admite ter sido massacrado por Fernando Collor no último duelo da campanha de 1989. A edição do confronto pela TV Globo ampliou o estrago, mas nem alquimistas da telinha lograriam juntar trechos de modo a tornar vencedor alguém que, na frase de despedida, trocou "maracutaia" por "maracagalha".
No primeiro turno de 2002, beneficiário do efeito dispersivo causado pela aglomeração de presidenciáveis, nem assim Lula foi bem. E escorregou com penosa regularidade em armadilhas banais, uma delas montada por Garotinho.
Inspirado na compulsão de Lula para discorrer sobre o desconhecido com a loquacidade dos especialistas, Garotinho pediu-lhe uma opinião "sobre a Cide". Lula não sabia tratar-se de uma contribuição tributária. Pensou que aquilo era a sigla de alguma entidade federal e soltou o palavrório. Há quatro anos entretido em monólogos, deve ter piorado.
Distante de debates desde 2002, o presidente também se manteve à distância dos jornalistas. Entrevistas coletivas, nem pensar. O campeão do improviso só fica à vontade quando contemplado por platéias de devotos. Fora do templo, o pregador perde a fala.
Lula se engana caso imagine que Geraldo Alckmin não é do ramo. Deputado federal, líder da bancada do governo, é homem familiarizado com o debate parlamentar. Candidato a governador, mostrou que sabe renunciar ao bom-mocismo na hora do ataque.
Terá de agir assim agora, até para mostrar que Lula não o assusta. Terá de escancarar ao país o medo que o confronto instila num adversário supostamente confiante. O candidato à reeleição detesta ser contrariado. E teme as verdades que enfim haverá de ouvir.
"Lula agora terá a chance de mostrar os casos de corrupção que envolvem o PSDB", alvoroçou-se o ex-ministro Ciro Gomes. Não explicou por que o chefe desperdiçou tantas chances oferecidas por emissoras de TV. "O presidente está sequioso pelo debate", fantasiou o pastor-auxiliar Tarso Genro. Bobagem.
Lula juntou-se ao elenco de comediantes. "Preferiria discutir projetos para o país, mas estou com muita vontade de debater ética e corrupção", disfarçou. A menos que Alckmin sofra de inclinações suicidas, o presidente vai matar a vontade. Porque o Brasil quer saber sobretudo de ética, de valores morais, de honradez.

Lula poderá atirar ao adversário, a FH, às elites ou às caravelas de Cabral as acusações que quiser. Mas terá de falar (além de ouvir muito) sobre o escândalo do dossiê, sobre as safadezas do churrasqueiro de estimação ou do companheiro Berzoini. E também sobre mensaleiros, sanguessugas, vampiros, okamottos, lulinhas. E mais. Muito mais.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/08/2006 02:41:00 AM      |