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ASSESSORIA DE LULA PERDEU O DEBATE
Por Pedro do Coutto na Tribuna da Imprensa
Geraldo Alckmin levou nitidamente a melhor no debate promovido pela Rede Bandeirantes na noite de domingo e este resultado ficou refletido, no final de duas horas e meia, na fisionomia de Lula e na expressão do coordenador de sua campanha, ministro Marco Aurélio Garcia. Em contrapartida, os assessores do ex-governador de São Paulo mostraram-se eufóricos. Eu me lembrei de João Saldanha: a torcida não se engana.
A assessoria do presidente da República revelou-se para baixo. As imagens, a meu ver, sintetizaram o confronto, cujo objetivo não era o de discutir teses, mas obter votos.
Luís Inácio da Silva, logo ao início, mostrou-se defensivo. Mal assessorado, não olhou de frente para as câmeras, exatamente ao contrário do que fez Alckmin. E olhar para as lentes é fitar diretamente os telespectadores: olhos nos olhos, como na bela canção do Chico Buarque. É fundamental. A audiência - me informa o diretor-presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro - foi de 20 por cento, em média.
Na meia hora final, caiu para 14 pontos. Foi alta. Vinte por cento correspondem a 11 milhões de domicílios. Pode ter influído nas pesquisas de intenção de votos. O Ibope deve divulgar uma na Rede Globo, na noite de hoje, terça-feira. Mas a opinião pública precisa de mais uns dias para digerir os fatos. É sempre assim.
Alckmin dirigiu-me direta e pessoalmente a todos os que assistiam. Partiu para o ataque focalizando o ponto mais vulnerável do governo, a corrupção que envolveu diversas figuras de peso do PT e a cobrança quanto à origem do dinheiro usado na alucinada tentativa de comprar um misterioso dossiê contra José Serra, que havia disparado em relação a Aloísio Mercadante no primeiro turno para o governo de São Paulo.
Lula, atingido por falsos aliados e amigos falsos, não se saiu bem na questão. Sua assessoria falhou, refletindo uma divisão interna de opiniões. Ele necessita reformulá-la imediatamente. Em primeiro lugar, entretanto, sair da defensiva e partir para a ofensiva.
Debate político é assim: na ofensiva se vence; na defensiva se perde. O Palácio do Planalto está em disputa, é essencial adotar-se uma postura firme. Inclusive, vale acentuar, sua atuação poderá produzir reflexos na posição de candidatos que disputam o segundo turno em vários estados e o apóiam para a reeleição. É o caso, por exemplo, de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul; Roberto Requião no Paraná; Sérgio Cabral Filho no Rio de Janeiro; Eduardo Campos em Pernambuco. Política é assim: como a nuvem, definiu certa vez o governador Magalhães Pinto. Muda de forma e direção a todo momento.
Por falta de memória seletiva e de assessoramento, perdeu oportunidades de ouro: não levou ao debate a lamentável atuação do governador Cláudio Lembo, que foi vice de Alckmin; esqueceu o apagão elétrico de 2001, no governo FHC, quando o presidente da República chegou ao cúmulo de dizer não ter sido avisado. Na mesma ocasião, Fernando Henrique Cardoso exigiu da população brasileira um racionamento de 20 por cento no consumo, sob pena de corte no fornecimento de energia.
O povo atendeu. E o que fez o governo? Simplesmente aumentou em 20 por cento, no mesmo mês, as tarifas de eletricidade. Isso fez com que todos os consumidores, residenciais, industriais, comerciais e de serviços, pagassem o mesmo valor por um volume de serviço menor. Onde estava a assessoria de Lula? Onde estava a ex-prefeita Marta Suplicy, agora dirigindo a campanha do presidente em São Paulo? Além disso, o presidente da República não atacou de forma intensa as privatizações da desadministração FHC. A começar pela da Vale do Rio Doce, sempre apontada como exemplo de doação pelo jornalista Helio Fernandes nesta TRIBUNA DA IMPRENSA.
Não acaba aí a seqüência de absurdos. Que dizer da privatização-doação da Light? A estatal francesa EDF não investiu um centavo e ainda deixou uma dívida no BNDES de 1 bilhão e 300 milhões de dólares. Prejuízo em aberto até hoje. O que fez o governo? Aceitou a criação de uma nova empresa, da qual o BNDES tornou-se sócio de 49 por cento da inadimplência em relação a si mesmo.
Houve, ainda, incrível, a intenção de privatizar Furnas, a segunda estatal brasileira, por um valor irrisório. Verdadeira tentativa de traição ao interesse nacional. Lula cometeu uma falha na defesa do governo Evo Morales, da Bolívia, na questão do gás natural. Alckmin encaixou um golpe curto, mas efetivo.
Agora, Alckmin falhou em não abordar a questão do funcionalismo público, que, nos últimos quatro anos, recebeu reajustes que somaram 2,1 por cento para uma inflação que o IBGE apontou em torno de 20 por cento. Nos últimos anos, as reposições inflacionárias ficaram em 9 por cento. A inflação do período registra 62 por cento. De qualquer forma, a assessoria de Alckmin contabiliza saldo positivo. A de Lula resultado negativo. Lula melhorou na meia hora final, mas revelou não estar à vontade no confronto. Deixou a impressão de temer os golpes do adversário.
Se Luís Inácio da Silva repetir na Globo o desempenho que revelou na Bandeirantes, poderá perder a eleição. Que estava ganha, não fosse o episódio do dossiê paulista. Tem que partir para a ofensiva, assumindo o mesmo tom de seu adversário. Como numa luta de boxe.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/10/2006 01:15:00 AM      |